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"Empresas precisam entender que todo mês é outubro rosa", diz médica do Instituto Protea

Entenda a importância e porque as empresas precisam realizar ações de prevenção ao câncer de mama ao longo de todo!

Flash
 

"Todo mês deveria ser outubro rosa". É assim que Renata Macchione, médica ginecologista, membro do conselho do Instituto Protea, organização não governamental que financia tratamento de câncer de mama a mulheres de baixa renda, e da Sociedade Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, começa a conversa com o blog da Flash.

Tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil, ela defende que a doença precisa estar na política de saúde corporativa do RH.

"As empresas falam em outubro rosa, mas muitas vezes não fazem o básico: liberar as funcionárias um dia no ano para fazer o exame de rastreio, por exemplo", diz a médica, que sobreviveu a um câncer de mama agressivo.

De acordo com a médica, além de palestras e campanhas de conscientização realizadas pontualmente no mês de outubro, as organizações precisam ter o câncer de mama como uma questão perene, promovendo o debate e realizando ações o ano todo — afinal, uma em cada oito mulheres vai desenvolver câncer de mama ao longo da vida.

"Se o diagnóstico é feito mais cedo, o tratamento tende a ser menos agressivo e a mulher é devolvida para a sociedade e o mercado de trabalho mais rápido.”

Veja, a seguir, os principais trechos desse bate-papo.

Qual é o papel das empresas no combate ao câncer de mama?

Toda palestra que dou atualmente, questiono: “Ficamos mais de uma hora conversando sobre câncer de mama, mas vocês oferecem uma manhã livre para que as colaboradoras possam realizar os exames [mamografia e papanicolau]? Sabem quantas trabalhadoras têm mais de 40 anos e se elas estão com o rastreamento em dia?

As mulheres não têm coragem de dizer aos líderes que vão se ausentar do trabalho porque agendaram uma mamografia. As empresas falam em outubro rosa, mas não fazem o básico: liberar as funcionárias um dia no ano para fazer o exame de rastreio.

A mamografia reduz em 30% a mortalidade do câncer de mama, por isso é tão importante olhar para isso dentro das organizações.

O que é rastreio do câncer de mama exatamente?

O rastreio é a detecção da doença antes da apresentação dos sintomas. A ideia da mamografia é detectar um câncer de mama precoce, quando as chances de cura podem chegar a 98%. No momento em que uma mulher percebe um caroço no seio, talvez ela não esteja mais no estágio inicial da doença. É aí que as organizações podem atuar.

Instituir um dia para que as funcionárias façam o exame é suficiente?

Costumo dizer que todo mês é outubro rosa. Se as companhias conseguem operacionalizar campanhas corporativas de vacinação, podem fazer o mesmo pela prevenção do câncer de mama. E recomendamos que isso não aconteça só em outubro, mas ao longo de todo ano.

Neste caso, o foco do RH deve ser nas funcionárias acima de 40 anos?

De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil (MS), a prevenção com a mamografia deve ser feita a partir dos 50 anos, mas a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), e outras entidades médicas preconizam o rastreamento a partir dos 40.

A questão da faixa etária varia de país para país, mas aqui no Brasil os exames devem começar a ser feitos idealmente a partir dos 40 anos. Além disso, dos 30 em diante, toda mulher deve ter a mama examinada pelo ginecologista regularmente.

Voltando à ideia da prevenção, o que mais as empresas podem fazer?

Quando falamos em câncer de mama, precisamos sempre observar as situações de vida que aumentam a probabilidade de desenvolver a doença.

Há os fatores de risco não modificáveis, como genética e histórico familiar, e os modificáveis, como obesidade, sedentarismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, gravidez postergada e amamentação interrompida.

Se a empresa expõe as pessoas a uma jornada extenuante e não olha para a saúde e o bem-estar, é possível que as mulheres que atuam nela não consigam desenvolver um estilo de vida saudável, algo que ajuda a prevenir o desenvolvimento de câncer de mama.

Então a amamentação tem um peso relevante no debate corporativo sobre prevenção do câncer de mama?

Quanto mais amamentamos, maior é a proteção contra o câncer de mama. Então, sim, este é um assunto relevante quando estamos falando de políticas preventivas. Quantas empresas oferecem um ambiente adequado para coleta de leite? Quantas respeitam a lei da amamentação [que garante dois intervalos de 30 minutos para amamentar o bebê até os seis meses], deixando a mulher sair mais cedo para alimentar a criança?

Outra questão importante, que falamos pouco: postergar a gravidez também traz um risco aumentado para o câncer de mama. Quanto antes for a gravidez e a amamentação, melhor. Hoje, vejo muitas mulheres no meio empresarial que consideram ideal a gravidez depois dos 40. E precisamos falar sobre isso.

Existe alguma relação entre estresse e desenvolvimento do câncer de mama?

Não há comprovação científica que correlacione o estresse com o câncer de mama. O que se pode afirmar, neste caso, é que existe um ciclo vicioso: se uma pessoa está estressada, dorme pior, se alimenta mal e não tem tempo para fazer as atividades prazerosas da vida.

Como consequência, acaba desenvolvendo um quadro inflamatório e problemas como obesidade e hipertensão, que são fatores de risco relacionados ao câncer de mama.

Existem novas descobertas científicas sobre o câncer de mama?

A medicina está evoluindo para o uso da inteligência artificial no rastreio, o que nos permite descobrir subtipos de câncer e trazer um entendimento maior de que a doença tem características e comportamentos diferentes.

Existem cânceres mais agressivos, menos agressivos, genéticos e não genéticos. Têm mulheres que fazem quimioterapia e radioterapia e outras que não fazem; há pacientes que realizam cirurgias pequenas, enquanto outras precisam fazer procedimentos mais amplos.

Os tratamentos devem ser individualizados e a importância da medicina do futuro está em mudar o paradigma na prevenção e no rastreamento do câncer de mama.

Hoje, você faz parte do Instituto Protea. Como funciona a atuação de vocês?

Nosso objetivo é a cura de mulheres que não têm recursos financeiros para custear o tratamento. Visamos aumentar o número de atendimentos, fazer a fila dos exames andar, antecipar o diagnóstico e devolver essas mulheres para a sociedade o mais rápido possível. Em três anos, realizamos o tratamento completo de 1.012 mulheres com câncer de mama. O objetivo do Protea é ser o Médico Sem Fronteiras do câncer de mama no Brasil.

E como surgiu a ideia?

O Instituto Protea surgiu de uma aflição muito grande da Gabriella Antice. Quando ela estava em tratamento do segundo câncer de mama, com os melhores recursos possíveis, recebeu um telefonema dizendo que uma conhecida demoraria seis meses para realizar a cirurgia. E, nos diagnósticos tardios, a chance de cura cai para 40%.

Foi neste momento que a Gabriela decidiu reunir um grupo de mulheres e médicos dispostos a mudar essa realidade. Eu, que estava terminando meu tratamento de câncer, trabalhava no SUS e tinha a mesma angústia, fui uma das médicas que se juntou a ela.

É possível fazer doações para o Instituto Protea?

Para garantir o direcionamento das doações, o Protea passa por auditorias anuais. No ano passado, a instituição recebeu doação de mais de 170 empresas parceiras.

Para doar, é simples. Basta acessar o site do Instituto Protea e escolher se a doação é única ou mensal, os valores começam em R$ 35. E empresas interessadas em fazer parcerias ou fechar ações de prevenção com seus times podem entrar em contato com o Protea via formulário por meio do nosso site: www.protea.org.br/formas-de-apoiar.

Você gostaria de deixar um último recado para o RH?

As mulheres têm receio de fazer a mamografia pelo medo da demissão. Hoje, a maioria dos lares das classes C e D são chefiados por mulheres em alguns segmentos da população chega 81,6%.

São elas que criam os filhos e sustentam os gastos da casa. Uma mulher nessas condições nem cogita receber o diagnóstico de câncer de mama. Além disso, muitas mulheres são abandonadas pelos companheiros após o diagnóstico de câncer de mama, principalmente após a cirurgia.

Hoje eu estou aqui contando a minha história, após um câncer de mama muito agressivo, porque pude continuar trabalhando durante meu tratamento e não fui demitida por isso.

Este é um momento em que a mulher, física e emocionalmente abalada, precisa de uma rede de apoio. E essa rede de apoio inclui a empresa na qual ela trabalha.

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