CLT Premium: o que os benefícios “ostentação” ensinam sobre as novas estratégias de remuneração
Entenda o que a CLT Premium, trend que viralizou no Tik Tok, mostra sobre estratégias de remuneração total e engajamento da Geração Z.
Vale-alimentação e refeição maiores que um salário mínimo, comidinhas e bebidas à vontade no escritório e modelos de trabalho como o remoto e híbrido. Esses são alguns dos benefícios de ser um “CLT Premium”, termo que ganhou popularidade após vídeos sobre a temática viralizarem nas redes sociais.
Com milhões de visualizações, principalmente no TikTok, esses vídeos curtos consistem em colaboradores expondo as benesses diferentes oferecidas pelas empresas em que trabalham.
Além de evidenciarem uma mudança na relação da Geração Z com o trabalho, uma vez que a maioria dos que se autodenominam “CLT Premium” são jovens, a trend exemplifica a importância de uma política de benefícios competitiva para atrair e reter talentos.
“Os vídeos mostram que as empresas precisam estar atentas a esses movimentos para serem competitivas e fortalecerem sua marca empregadora. É um momento de oportunidades”, analisa Tatianne Brito Fontes, coordenadora de RH do buscador de vagas de emprego Catho.
O que significa ser “CLT Premium”?
Por lei, os benefícios garantidos aos trabalhadores que atuam sob a CLT consistem em repouso semanal remunerado, férias remuneradas acrescidas de um terço, 13º salário, vale-transporte e depósitos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
“Porém, o pacote completo que as empresas oferecem, já há algum tempo, inclui vale-alimentação, vale-refeição, plano de saúde e plano odontológico, que não são obrigatórios”, afirma Tatianne.
Por outro lado, nas redes sociais, o “CLT Premium” ostenta benefícios que vão muito além do pacote padrão e daqueles previstos na legislação trabalhista. Entre os exemplos de incentivos “premium” estão desde escritórios moderninhos e plano de saúde sem coparticipação até massagem, cota mensal para transportes por aplicativo e viagens de graça bancadas pela empresa.
“Os benefícios mostrados nos vídeos chamam a atenção porque são diferentes, especialmente para quem já está há muito tempo no mercado de trabalho e não está habituado a esse tipo de pacote, que prioriza a qualidade de vida”, avalia Isabela Bueno, gerente sênior da consultoria Michael Page.
Isabela, porém, salienta que algumas categorias têm garantido por lei o acesso a um pacote de benefícios maior, de acordo com os acordos coletivos alinhados com as entidades sindicais.
Além dos que já foram citados, ela diz que recentemente foram incluídos no “pacote básico” o auxílio-creche e uma ajuda de custo para educação do trabalhador e de seus dependentes.
“Todos esses serviços são importantes para o profissional e, por mais que não sejam obrigatórios, também não são nenhum luxo. Para quem trabalha longe de casa, por exemplo, a oferta de alimentação no local ou o auxílio-refeição pode ser entendido como o mínimo que a empresa pode fazer”, afirma.
Remuneração total: o que é, e por que impacta o engajamento
Além de mostrar como os jovens, especialmente da Geração Z, estão dispostos a serem promotores da empresa em que trabalham nas redes sociais, a trend do “CLT Premium” também exemplifica como as estratégias de total compensation ganharam força dentro das empresas.
Em linhas gerais, a ideia de total compensation, ou, em português, remuneração total, engloba todas as recompensas, financeiras ou não, que um profissional recebe além do seu salário-base. Entre eles, estão itens como plano de saúde, vale-refeição e alimentação.
Segundo Isabela, da Michael Page, a aposta das empresas em robustecer os pacotes de benefícios ampliando a percepção de valor que eles geram nos empregados não acontece à toa.
“Hoje, isso impacta diretamente na satisfação das pessoas, no engajamento e na retenção desses talentos nas empresas. Há casos em que é possível observar inclusive um aumento de produtividade e a redução do estresse, pois eles contribuem para o colaborador ter um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional”, diz.
Os dados comprovam essa tendência. Segundo a Pesquisa de Benefícios de 2023, realizada pela consultoria Robert Half, 53% dos colaboradores concordam que os benefícios auxiliam na atração e retenção na empresa em que trabalham. Outros 46%, dizem que o pacote de incentivos é algo decisivo para aceitar uma nova proposta de emprego.
A gerente da Michael Page diz já ter visto candidatos desistirem de boas posições por não terem um plano de saúde como benefício. “Trata-se de algo que tem um custo indireto muito alto, especialmente se a gente pensar em uma família. Então, ter um plano em que os dependentes possam ser incluídos representa um ganho financeiro”, fala.
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“CLT Premium”: o que a trend ensina sobre atração e retenção de colaboradores?
Planos para a prática de atividades físicas, licenças parentais estendidas, flexibilidade de horário da jornada de trabalho e ter um plano de carreira bem definido são alguns dos benefícios “plus”.
De acordo com Tatianne, da Catho, eles podem agradar diferentes perfis de trabalhadores, embora as publicações nas redes sociais mostrem que entre os profissionais da chamada geração Z, nascidos a partir de 1995, eles sejam bastante valorizados.
“A geração Z e os millennials, no geral, buscam mais qualidade de vida. A valorização desses tipos de benefício reflete de certa forma uma mudança na expectativa dos profissionais em relação ao trabalho, que vai além da realização financeira”, diz.
“Eles consideram a experiência total do trabalho, como estar em um ambiente agradável ou saber quais são as possibilidades reais de crescimento”, completa a coordenadora de RH da Catho.
Nesse sentido, as especialistas trazem à tona a questão da importância de oferecer flexibilidade para os trabalhadores atualmente, seja ela por meio de modelos de trabalho, horários ou benefícios flexíveis. Isso porque, além de responder aos anseios de profissionais de diferentes perfis e gerações, também reforça valores como a autonomia para os colaboradores.
“A flexibilidade é um consenso, estimula a motivação e a criatividade e, obviamente, aumenta a produtividade” explica Tatianne, que alerta: “uma política de benefícios tem de ser elaborada a partir dos objetivos estratégicos da empresa, pautada na cultura organizacional, de olho no que realmente gera um valor para seus colaboradores.”
“O que é oferecido, além de ter valor, precisa fazer sentido, ser compatível com a cultura e refletir os valores da empresa. Os benefícios têm de ser pensados como parte de um pacote de remuneração, de um todo que torna a empresa competitiva”, finaliza Isabela.
Jornalista especializada na cobertura de economia, carreiras e cultura. Trabalhou na Folha de S. Paulo, Agora S. Paulo, Record, Globo e UOL. Escreve para a Flash e também é pesquisadora e professora universitária, com passagens pela UNESP, USP e UFRGS.