"Líderes precisam abandonar comando e controle", diz Richard Uchoa, CEO da Revvo
Um dos executivos mais influentes do Linkedin, Richard Uchoa, CEO da Revvo, fala com exclusividade à Flash de novos modelos de gestão.
“Não são as pessoas que não conseguem trabalhar em casa, são os líderes que não têm métricas para estimular seus colaboradores a manter sua produtividade.” A afirmação parece polêmica, mas é dessa forma que Richard Uchoa, CEO da Revvo e um dos executivos brasileiros mais influentes do Linkedin, defende que a flexibilização profissional não é mais uma tendência, mas uma batalha de mudança de mindset para a gestão remota, e um desafio que os líderes devem abraçar para reduzir turnover e reter talentos.
Nesta entrevista exclusiva ao blog da Flash, Uchoa analisa o cenário atual e lista algumas mudanças que os líderes precisam fazer para enfrentar os desafios impostos pelos modelos flexíveis de trabalho sem perder a produtividade.
"Eu vejo que muitas empresas estão preferindo voltar ao presencial. Então, vai ser uma briga forte: de um lado a empresa, e do outro a resistência do colaborador. Ainda mais para quem mora longe e fica 2 horas no trânsito Os colaboradores estão olhando para o ganho na qualidade de vida que é poder ficar em casa. Vai ter gente trocando de emprego para ganhar menos, para ter essa liberdade. Enxergo uma batalha de dois lados."
Para o CEO, o cenário econômico do país será decisivo para a velocidade com que os >modelos de trabalho vão evoluir. "Se a gente tiver geração de emprego, crescimento econômico, os colaboradores irão questionar cada vez mais as empresas."
Richard Uchoa afirma ainda que é possível crescer no modelo flexível. E cita como exemplo a própria Revvo, empresa de aprendizagem digital com foco em educação corporativa, que passou de 40 funcionários para 200 nos últimos três anos — todos em gestão remota. Para ele, no entanto, o segredo do crescimento orgânico da companhia não foi o home office, apesar de perceber que a liberdade é uma vantagem competitiva para a empresa.
“O que permitiu o crescimento foi a mudança no nosso modelo de gestão no remoto. Tem empresa que quer gerir como estava gerindo no presencial. Tivemos o desafio de contratar dezenas de pessoas na pandemia, fazer onboarding online. Então fomos criando também uma cultura de home office forte, em que a gente não delega tarefas, não cobra horários, mas dá autonomia para a entrega de resultados. E eles vieram”, diz.
Nessa cultura, destaca, o líder tem de abrir mão do modelo de comando e controle. “Tem gente que quer saber o que cada um está fazendo e em qual horário. Ver a pessoa trabalhando vira modelo de controle. A verdade é que a falta de gestão fica muito evidenciada no home office. E aí, sim, a produtividade cai.”
5 comportamentos da liderança remota
Da flexibilidade de horários à criação de rituais e muita comunicação, confira o que Richard Uchoa considera os 5 comportamentos necessários para a liderança remota funcionar:
1. Cobrança: não cobre atividade, cobre resultados. Olhando para qualquer atividade, normalmente, os chefes ficam falando o que a pessoa tem de fazer. Quando você vai para o híbrido, não tem mais esse controle. Isso é feito por meio de resultados.
2. Gestão de horário: O líder não gere mais o horário, aí volta para o primeiro ponto. Ele gerencia os resultados. A pessoa faz no seu tempo, é preciso ter flexibilidade.
3. Confiança: A única forma de trabalhar remotamente é com confiança. Se você não consegue estabelecer um ambiente de confiança, o híbrido e o home office nunca vão funcionar.
4. Comunicação: É preciso ter uma rotina de comunicação com os colaboradores para que todo mundo esteja alinhado. Todo mundo precisa saber todo dia o que tem de fazer, vivenciar a cultura da empresa, os comportamentos. E isso você estabelece através de rituais claros.
Mas importante acrescentar que comunicação não significa colocar o funcionário em reuniões o dia todo. “O líder precisa dar tempo para o seu funcionário produzir. Se você é um gestor, é bom ficar atento em como está a agenda do seu colaborador, para saber se ele está tendo tempo para fazer o seu trabalho. Se você é colaborador, sempre recomendo bloquear partes da sua agenda para produzir e evitar que pessoas marquem reuniões. Também, recomendo sempre trocar reuniões de 1h por 45 mins, ou de 30 mins por 20 mins. Assim, você permite que a pessoa responda e-mails e estique as pernas entre as reuniões."
5. Rituais: Você precisa ter rituais que vão definir a cultura que você quer. Na Revvo, todo dia as equipes fazem uma reunião de 15 minutos, que chamamos de daily, para definir o que vai ser feito. E, no final do dia, o colaborador manda um e-mail para o gestor falando o que foi feito. Também temos outros rituais, como uma reunião semanal que eu faço com toda a empresa para falar o que está acontecendo. E a rotina precisa ser cumprida.
Trabalho híbrido permite conexão
Defender o home office, no entanto, não significa abrir mão dos encontros presenciais. Uchoa afirma que a Revvo deixará de ser 100% online e passará, em breve, a operar no modelo híbrido, com idas ao escritório entre 1 e 2 vezes por semana, porque acredita na importância de as pessoas estarem juntas, ao menos de vez em quando, para construírem vínculos e fortalecer a cultura organizacional.
"Estamos voltando porque vemos valor nas pessoas estarem juntas, se comunicarem. O que a gente não vê mais valor é no modelo em que a empresa controla mais o horário e as atividades do que a produtividade e o resultado. Não achamos que o presencial é o único modelo para gerar produtividade”
Com funcionários em vários Estados, Richard Uchoa conta que a volta também não será no modelo de antes. "A pessoa vai poder escolher quando e o horário que quer fazer. Imagina que o colaborador precisa deixar seu filho nas escola às 10h, ele vai trabalhar de casa duas horas e chegar no escritório às 11h. Está tudo bem. A gente não vai ter a restrição de horário do modelo tradicional. A gente vai ter o presencial no modelo híbrido, só que no mesmo modelo de gestão remota do online”, conta o CEO, que atualmente consegue levar as 3 filhas à escola diariamente e não pretende abrir mão dessa rotina.
“Nenhum ser humano pode ter como única prioridade o trabalho, ele é um meio para financiar sua vida pessoal. E o home office se encaixa muito bem nesta filosofia. Por isso nosso turnover é muito baixo, mesmo sendo uma empresa de tecnologia”, finaliza.
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Jornalista de formação, depois de atuar por 12 anos em redações de jornais diário, passou a atuar com comunicação corporativa, sempre com o objetivo de contar histórias relevantes.