Saúde mental da mulher, maternidade e a idealização corporativa
Descubra como é e o que pode ser feito para conciliar a saúde mental da mulher e a maternidade no ambiente corporativo.
A conexão entre saúde mental da mulher e maternidade é profundamente significativa.
Contrariando a idealização da maternidade frequentemente retratada em tons idílicos pela sociedade, a realidade materna é entremeada de desafios, incluindo exaustão, dúvidas e inseguranças. Discutir abertamente essas questões não só é válido, mas necessário.
Além disso, é vital que tais adversidades sejam validadas em todos os segmentos sociais, com especial atenção ao ambiente corporativo, reconhecendo a importância da saúde mental da mulher no trabalho, particularmente durante e após o período do pós-parto.
A aceitação e o apoio aos problemas de saúde mental no trabalho, como transtornos de ansiedade ou transtornos alimentares, são essenciais.
Encorajar a procura por ajuda profissional pode ser um passo significativo para enfrentar as realidades da maternidade, combatendo o estresse crônico e promovendo uma discussão aberta sobre temas como violência de gênero, que também impactam a saúde mental das mulheres.
Falar mais sobre essa temática é essencial, apesar de sua natureza delicada e das diversas etiquetas associadas.
Esse artigo tem como objetivo permitir que um número maior de mulheres seja escutada e entendida, assim como ampliar o acesso à informação.
A idealização da maternidade e o estigma da saúde mental materna
A idealização da maternidade frequentemente contrasta com a realidade da saúde mental materna, um aspecto vital que enfrenta estigmatização.
Ser mãe é celebrado como um grande privilégio para as mulheres que escolhem esse caminho, contudo, a realidade diverge das cenas idealizadas por filmes e sonhos, exigindo adaptações significativas e impactando profundamente a saúde mental no trabalho.
A prevalência de condições como a depressão pós-parto é alarmante, afetando uma em cada quatro mães, conforme aponta o Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente.
Essa estatística sublinha a urgência de derrubar os preconceitos em torno dos problemas de saúde mental materna e de reforçar a rede de apoio.
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O puerpério e os aspectos emocionais da recém-mãe
Com o nascimento do bebê, a mulher também se redescobre como mãe — especialmente aquelas que estão vivendo essa experiência pela primeira vez.
Além dos desafios ligados aos cuidados com o bebê, há também as expectativas de retomar a forma física e de retornar à rotina profissional, fatores que podem afetar significativamente a saúde mental.
Nesse contexto, o auxílio-maternidade desempenha um papel fundamental. Mais do que um direito trabalhista, ele representa um período essencial de acolhimento e recuperação física e emocional, garantindo que a mãe possa se adaptar a essa nova fase com tranquilidade.
É indispensável intensificar o suporte à saúde mental da mulher, reconhecendo que a mãe, assim como o bebê, precisa de cuidado e atenção priorizados.
Proporcionar um ambiente acolhedor é essencial para que esse período se desenvolva de forma saudável, sem sobrecarga de estresse ou complicações.
E vale lembrar: o foco não está apenas nas variações hormonais, mas nas profundas transformações que o corpo e a mente feminina vivenciam durante a gestação e o pós-parto — uma fase que exige acompanhamento atento de familiares, amigos e, quando necessário, de profissionais especializados em saúde mental.
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O medo das mães de colocar a carreira profissional de lado
A introdução de inúmeras mudanças no dia a dia, incluindo o cuidado com a saúde do filho, a amamentação e a reorganização de uma rotina, traz consigo a preocupação das mulheres de terem que negligenciar outras esferas da vida, particularmente a carreira profissional.
Um estudo conduzido pela Workana em 2018 revelou que aproximadamente 50% das mães brasileiras conciliam o trabalho com o cuidado dos filhos. Essa dualidade de responsabilidades, com a expectativa de desempenhar ambos os papéis à perfeição, pode ser uma fonte significativa de estresse, contribuindo para o surgimento de problemas de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão e a síndrome de burnout.
Retenção de mulheres pós-licença maternidade
De acordo com estatísticas da Fundação Getúlio Vargas, em torno de 50% das mulheres optam por sair ou são dispensadas de seus postos de trabalho dentro de um ano e meio seguindo o período de licença maternidade.
O desafio de encontrar um equilíbrio saudável entre responsabilidades profissionais e saúde mental é uma barreira considerável, levando muitas a interromper ou mesmo abandonar suas trajetórias profissionais. O esforço para equilibrar esses dois aspectos na vida de uma mulher é monumental, e não deve recair unicamente sobre as mães.
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Parceiros, familiares e os empregadores destas mulheres são fundamentais para permitir que as mulheres continuem suas carreiras. Paralelamente, é imperativo que as empresas proporcionem recursos adequados para apoiar esse equilíbrio, incluindo benefícios adaptados às suas necessidades.
Proporcionar benefícios flexíveis, como suporte à saúde, auxílio-creche, vale-alimentação e refeição, além de incentivos ao bem-estar, são maneiras eficazes de zelar pela saúde mental, física e financeira das funcionárias que são mães.
O RH é responsável por escolher benefícios que verdadeiramente atendam essas necessidades, auxiliando-as a gerir suas responsabilidades domésticas e seu crescimento profissional.
Inclusão da maternidade como experiência profissional
Para além dos benefícios convencionais, é essencial destacar iniciativas pioneiras como a implementada pelo LinkedIn, que valoriza todas as vertentes do trabalho.
Com a nova funcionalidade, a plataforma empodera as usuárias ao permitir que incluam funções como “dona de casa” e “cuidador doméstico” nas descrições de suas experiências de trabalho. Esta mudança é um marco importante, reconhecendo oficialmente o imenso valor e as habilidades desenvolvidas através da maternidade e dos cuidados domésticos.
A ação do LinkedIn serve como um farol progressista, iluminando o caminho para uma maior apreciação do trabalho materno e cuidador, que por muito tempo ficou invisibilizado no contexto profissional.
Ao fazer isso, não apenas eleva a estima profissional das mães, mas também encoraja um diálogo mais aberto e respeitoso sobre a maternidade em espaços tradicionalmente voltados para o mundo corporativo. Essa iniciativa visa desfazer estigmas e promover um entendimento mais profundo de que a experiência parental traz competências valiosas para o ambiente de trabalho.
Esta inovação reflete um movimento maior em direção à valorização da integração da vida pessoal e profissional, reconhecendo a importância de todas as formas de trabalho e o impacto significativo que a maternidade tem no desenvolvimento de habilidades transversais e competências de liderança.
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Tatiana Sendin é fundadora e CEO da Think Work. Jornalista especializada em negócios e recursos humanos, nos últimos 20 anos, tem escrito sobre carreira, mercado de trabalho, gestão de pessoas, empreendedorismo e tecnologia.