Vilã ou aliada? Amy Gallo explica como fofoca pode ser estratégica no trabalho
Para Gallo, a fofoca é simplesmente a troca de informações sobre outras pessoas na ausência delas.

Fofoca no escritório é um problema a ser combatido ou um fenômeno natural das relações humanas? No SXSW 2025, Amy Gallo, especialista em dinâmicas organizacionais e autora best-seller, trouxe uma nova abordagem sobre o impacto da fofoca no ambiente de trabalho. Longe de ser um simples ruído corporativo, ela pode atuar como um termômetro das relações interpessoais e até fortalecer conexões entre colegas – desde que bem administrada.
A seguir, veja as dicas apresentadas por Gallo e como a fofoca pode ser compreendida e utilizada estrategicamente por gestores e líderes para aprimorar a comunicação interna e evitar desastres na cultura organizacional.
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Fofoca é parte da natureza humana
A primeira provocação feita por Gallo foi direta: o que realmente significa fofocar? No imaginário popular, a palavra geralmente carrega uma carga negativa, associada a boatos maldosos e comentários destrutivos. No entanto, segundo Gallo, a fofoca é simplesmente a troca de informações sobre outras pessoas na ausência delas – algo que todos fazemos regularmente, e muitas vezes, sem perceber.
A palestrante confessou que já havia fofocado “dez vezes antes das 10 da manhã”, ilustrando o quão natural essa prática é. Segundo Gallo, um estudo mostra que 96% dos funcionários admitem fofocar no ambiente profissional no decorrer do dia.
A fofoca pode fazer até com que a pessoa ganhe um pouco mais de autoridade. “Informação é poder. Se você tem uma informação que os outros não têm, eles passam a te ver como alguém com um pouco mais de autoridade”, afirma Gallo.
Mas se funcionários de diferentes níveis hierárquicos fofocam, qual o real impacto desse comportamento para as empresas?
Quando a fofoca é positiva – e quando se torna um problema
A pesquisa citada por Gallo revela que a fofoca não é exclusivamente negativa. Na verdade, ela pode exercer um papel importante na manutenção da cultura organizacional. Entre os benefícios, destacam-se:
- Disseminação de informação relevante: em muitos casos, a fofoca serve para compartilhar percepções sobre comportamentos e reforçar padrões culturais.
- Conexão entre profissionais: conversas informais fortalecem laços interpessoais, criando um sentido de comunidade e colaboração.
No entanto, há uma linha tênue entre um compartilhamento construtivo de informações e a disseminação desenfreada de desinformação e conflitos interpessoais. Segundo Gallo, os impactos negativos da fofoca incluem:
- Danos à reputação profissional: quando mal-intencionada, a fofoca pode destruir a imagem de um colaborador e comprometer sua trajetória na empresa.
- Clima organizacional tóxico: se os boatos assumem um tom pejorativo ou carregam preconceitos, podem gerar desconfiança e prejudicar o engajamento da equipe.
A grande questão, então, não é eliminar a fofoca – tarefa praticamente impossível –, mas sim gerenciá-la de maneira estratégica.
Papel dos líderes
Um dos pontos mais intrigantes discutidos foi a relação entre gestores e fofocas. Embora muitas lideranças desaprovem estas trocas de informação, estudos indicam que supervisores também fofocam – e muito. A questão, segundo Amy Gallo, é que aqueles em posições de liderança têm maior controle da narrativa e muitas vezes não reconhecem que suas discussões informais também são fofocas.
Além disso, as lideranças podem acabar criando barreiras desnecessárias na comunicação organizacional, na tentativa de suprimir boatos ou minimizar questionamentos. Isso, em vez de resolver o problema, pode acirrar ainda mais os rumores e gerar ressentimento na equipe.
“Tudo é fofoca e pesquisa, é da evolução humana. É como você descobre em quem confiar”, afirmou Gallo. Então, como gestores podem lidar de forma eficaz com a fofoca sem incentivá-la negativamente?
Estratégias práticas para gerir a fofoca a favor da empresa
Amy Gallo defende que, ao invés de proibir fofocas, líderes devem adotar práticas que direcionem essa troca de informações para algo produtivo, e não destrutivo. Algumas das estratégias sugeridas incluem:
1. Avalie a intenção e o contexto da informação
Fofocar por fofocar raramente traz benefícios. Sempre pergunte a si mesmo:
- Por que estou compartilhando essa informação?
- Essa conversa pode agregar valor ou apenas reforçar ruídos desnecessários?
A fofoca pode ser ética e produtiva, afirma Gallo. Para ela, refletir antes de falar pode transformar uma simples conversa em um aprendizado para o grupo.
2. Incentive feedbacks diretos ao invés de boatos
Quando um colaborador ouvir uma fofoca negativa, a melhor abordagem pode ser perguntar diretamente ao interlocutor se ele já conversou com a pessoa envolvida. Segundo Gallo, uma pergunta simples pode ajudar a reduzir ruídos: “Você já deu esse feedback diretamente ao interessado?”
Com essa abordagem, é possível transformar conversas destrutivas em oportunidades de crescimento profissional.
3. Crie uma cultura de comunicação transparente
Mesmo nas empresas mais inovadoras, é impossível suprimir completamente conversas paralelas. O que as lideranças podem e devem fazer é criar microculturas organizacionais que incentivem comunicação aberta, feedback construtivo e segurança psicológica.
“Os gestores frequentemente não gostam da fofoca porque preferem controlar a informação”, afirmou Gallo, alertando que é preciso encontrar um equilíbrio. Empresas que fomentam transparência reduzem boatos prejudiciais, porque tiram a necessidade de especulação.
4. Combata fofocas preconceituosas e perigosas
Um aspecto sensível da fofoca organizacional envolve a reprodução inconsciente de estereótipos e discriminações. Comentários velados sobre a aparência, comportamento ou aptidões de um colega podem reforçar vieses inconscientes e prejudicar a diversidade e inclusão dentro da empresa.
Gestores e RHs podem minimizar esse impacto promovendo políticas claras sobre discursos tóxicos e reafirmando valores de respeito e equidade.

É videomaker sênior na Flash. Formada em audiovisual, tem experiência em desenvolvimento de identidade visual, fotografia, design, animação e edição de vídeos. Viajou ao Texas, Estados Unidos, para fazer cobertura especial do SXSW 2025 para o blog e as redes sociais da Flash.