Opinião: Mentoria profissional como ponte para transformar o desenvolvimento das pessoas e fortalecer a cultura
CHRO da Flash reflete sobre o papel da ferramenta para desenvolver talentos, impulsionar a diversidade e fortalecer a cultura organizacional.

Na minha coluna de estreia aqui no blog da Flash, falei sobre mobilidade interna como uma das formas menos óbvias, mas profundamente eficazes de impulsionar o desenvolvimento de pessoas nas organizações. Agora, quero ampliar nossa conversa, trazendo outro caminho que também pode ser transformador: a mentoria.
Nem sempre crescer profissionalmente passa apenas por uma nova formação ou por um PDI (plano de desenvolvimento individual) milimetricamente estruturado. Em determinados momentos, como numa transição de carreira, contar com a experiência de quem já passou por uma situação parecida, que pode compartilhar o que aprendeu e ajudar a organizar os próximos passos, pode fazer uma grande diferença.
Para mim, a mentoria é exatamente isso: uma troca que nasce da vivência e se fortalece na escuta ativa. Uma prática que desenvolve hard ou soft skills, cria relações duradouras e inspira ações práticas.
Ao contrário do coaching, que segue uma metodologia estruturada e orientada por perguntas, a mentoria parte da bagagem de quem orienta. Por isso, não há uma receita pronta ou um único modelo a ser seguido. Mas, quando conduzida com intenção, pode ser profundamente transformadora.
Ao longo da minha trajetória profissional, pude acompanhar de perto o impacto da mentoria em diversas carreiras, inclusive na minha. Em um momento particularmente desafiador, contei com um mentor que me ajudou a enxergar um desafio com mais clareza.
Na época, eu estava encerrando a operação de uma empresa, um processo complexo, que envolvia muitos desligamentos. O plano era iniciar o dia com as agendas de layoffs, mas meu mentor me fez uma sugestão simples que ele já havia testado com sucesso: avisar de manhã sobre as conversas de demissão em uma reunião geral para que todos soubessem o que esperar das conversas individuais.
Essa mudança de perspectiva humanizou o processo. A comunicação clara trouxe mais empatia e eficiência para um dia muito difícil. E me mostrou, na prática, como a mentoria pode ser um recurso valioso em situações críticas.
Por isso, fico feliz de poder estruturar um programa na Flash com esse mesmo olhar. Começamos avaliando um pequeno grupo de colaboradores que estavam prestes a dar um novo passo na carreira. A partir daí, conectamos essas pessoas a mentores internos e externos e deixamos que cada dupla construísse sua jornada, no seu ritmo, com o apoio do RH. O projeto cresceu e já estamos expandindo a iniciativa.
Acreditamos tanto no poder da mentoria que estamos patrocinando também o programa “Delas pra Elas”, do Instituto Vasselo Goldoni, o IVG, que conta com mentorias individuais e coletivas para mulheres. Nos encontros, executivas de RH se reúnem para ouvir mulheres que são CEOs de grandes empresas, e que já passaram por grandes desafios pessoais e profissionais. Nessas trocas, nascem espelhamentos e inspirações que vão muito além do currículo. É uma relação potente, cheia de sororidade, generosidade e coragem..
E o que nos dá certeza de que estamos no caminho certo é que esse é um impacto mensurável. Um estudo da Catalyst revelou que mulheres com mentoras são cinco vezes mais propensas a se engajar em iniciativas estratégicas de mudança, como transformação digital e ESG, áreas em que o RH é protagonista.
Acredito ainda que a mentoria também tem um papel fundamental para acelerar a diversidade dentro das empresas. Quando criamos espaços para que mulheres, pessoas negras, LGBTQIAPN+ e outros grupos sub-representados tenham acesso à experiência de quem já esteve em posições-chave, vamos muito além das conexões: criamos novas possibilidades.
E, se há algo que a experiência me ensinou é que mentoria é para todos, não apenas para quem ocupa cargos seniores. Um exemplo disso é a mentoria reversa, em que o mentor é alguém com uma perspectiva diferente, como no caso de um líder sendo mentorado por alguém da geração Z. Essa troca de papéis permite que cada pessoa compartilhe suas experiências.
Nesse processo, vejo o RH como um facilitador. Não para intermediar as conversas, mas para construir boas conexões, orientar os pares e preparar mentores, oferecendo ferramentas para que cada encontro tenha fluidez, propósito e gere um impacto real. Em um contexto de escassez de talentos e desafios de retenção, oferecer esse tipo de apoio pode fazer toda a diferença.
Quer dar início a um programa de mentoria dentro da empresa, mas não sabe qual é o primeiro passo? Minha sugestão é: comece pequeno. Escolha um grupo que possa se beneficiar rapidamente. Prepare bem quem vai mentorar. Acompanhe os efeitos. Compartilhe os aprendizados e permita que o projeto cresça a partir das histórias que ele mesmo vai construir. A empresa e todos os colaboradores envolvidos só têm a ganhar.
E, se quiser compartilhar sua experiência com mentoria, sigo por aqui.
Até a próxima coluna.

Isadora Gabriel é CHRO da Flash. Formada pela PUC São Paulo e com MBA Executivo pelo IESE Business School de Barcelona, tem mais de 15 anos de experiência na área de Recursos Humanos. Já passou por empresas como Único, Movile, Amaro, Banco Safra, Bolsa de Valores, Itaú, Telefônica e Unilever. Em sua coluna mensal no blog da Flash, fala sobre tendências e futuro do trabalho.