Por que a incerteza está redefinindo a liderança e a gestão de pessoas
No SXSW 2025, autora premiada Maggie Jackson traz uma nova perspectiva sobre como dúvida pode ser um recurso estratégico essencial para empresas.

Foto: Juliana Cordaro/ Flash - 07.03.2025
Por décadas, a incerteza foi vista como um obstáculo a ser superado. No SXSW 2025, a premiada autora e especialista em inovação Maggie Jackson, trouxe uma perspectiva nova e transformadora: e se a dúvida não for uma fraqueza, mas um recurso estratégico essencial para empresas e líderes prosperarem?
Diante de um ambiente corporativo cada vez mais dinâmico, impulsionado por avanços tecnológicos, mudanças econômicas e novas demandas do mercado, saber operar no incerto se tornou uma vantagem competitiva. Líderes de Recursos Humanos, CEOs e gestores financeiros devem reconsiderar como lidam com a ambiguidade para estimular inovação, resiliência organizacional e alto desempenho das equipes.
O time da Flash está em Austin, com um grupo de executivos de RH, e trouxe em primeira mão reflexões de Maggie Jackson sobre como a incerteza pode se tornar um motor para a inovação dentro das companhias.
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Redefinindo o papel da incerteza dentro das empresas
No mundo corporativo tradicional, a liderança segura, com respostas rápidas e decisões firmes é valorizada. No entanto, pesquisas recentes mostram que um mindset de "incerteza produtiva" pode ser fundamental em tempos de transformação.
Segundo um estudo da McKinsey, as empresas que adotam uma abordagem de "experimentação constante" têm 1,7 vezes mais chances de se destacar em inovação. Essa mentalidade está alinhada com o conceito de "incerteza produtiva" proposto por Jackson.
A incerteza pode ser um terreno fértil para o desenvolvimento de habilidades essenciais, como:
- Agilidade: profissionais que não se apegam a verdades absolutas adaptam-se mais rapidamente a novos desafios.
- Curiosidade: estimular perguntas e o aprendizado contínuo amplia a capacidade de inovação das equipes.
- Resiliência: lidar com o desconhecido fortalece a capacidade de reação a crises e mudanças bruscas.
- Criatividade: ambientes que não exigem certezas imediatas oferecem espaço para experimentação e novas ideias.
No Brasil, onde fatores políticos e econômicos frequentemente impactam os negócios, aprender a operar sob incerteza pode ser um diferencial competitivo capaz de impulsionar as empresas frente à concorrência.
Liderança na era da ambiguidade
Historicamente, bons líderes eram identificados pela assertividade e por sua capacidade de tomar decisões rápidas. Hoje, porém, os melhores líderes não são os que têm todas as respostas, mas sim os que sabem fazer as perguntas certas.
Uma pesquisa recente da Harvard Business Review mostrou que líderes que promovem uma cultura de questionamento e aprendizado contínuo têm 2,3 vezes mais chances de alcançar resultados excepcionais em inovação.
Para Jackson, a liderança do futuro precisa incentivar uma cultura de experimentação, onde erros calculados são encarados como parte do crescimento organizacional. Isso exige uma redefinição dos líderes empresariais:
- Líder adaptável: aceita a incerteza como parte do processo decisório e não busca uma previsibilidade inexistente.
- Líder questionador: estimula a reflexão crítica dentro do time, promovendo uma mentalidade de melhoria contínua.
- Líder colaborativo: encoraja a construção coletiva de soluções, descentralizando o comando e valorizando a inteligência coletiva.
Essa abordagem está diretamente ligada ao conceito de "expertise adaptativa", no qual bons líderes sabem quando e como questionar seus próprios conhecimentos, ajustando seu olhar diante de novas situações.
Expertise adaptativa
- Explora problemas sob diferentes ângulos
- Expande sua visão e se abre para novas perspectivas
- Escuta o que o problema está "tentando contar"
Expertise rotineira
- Evita explorar novas soluções
- Mantém-se preso a padrões previsíveis
- Assume certezas rápidas, sem questionamento crítico
A incerteza pode ser vista como "sabedoria em movimento", e os gestores do futuro precisarão incorporar essa mentalidade para lidar com um cenário cada vez mais complexo.
Neurociência e inovação
Outro ponto crucial da palestra de Jackson no SXSW foi a relação entre incerteza e inovação sob a ótica da neurociência. Nosso cérebro é naturalmente programado para buscar padrões previsíveis, o que, paradoxalmente, pode nos limitar na resolução de problemas complexos.
Pesquisas recentes do MIT mostram que a exposição controlada à incerteza pode estimular a neuroplasticidade, aumentando nossa capacidade de adaptação e criatividade. Isso sugere que ambientes de trabalho que promovem a "incerteza produtiva" podem, na verdade, estar cultivando mentes mais inovadoras e resilientes.
Para os líderes de RH, isso significa repensar programas de treinamento e desenvolvimento que não apenas transmitam conhecimento, mas também estimulem a capacidade de questionar, explorar e adaptar-se.
Incerteza como estratégia de inovação
À medida que avançamos para o futuro do trabalho, a capacidade de prosperar na incerteza se tornará cada vez mais crucial para o sucesso organizacional. As empresas que conseguirem implementar uma cultura de "incerteza produtiva" estarão melhor posicionadas para inovar, adaptar-se e liderar em seus respectivos mercados.
Para os profissionais de RH e líderes empresariais, o desafio está em criar ambientes que não apenas tolerem, mas ativamente promovam o questionamento, a experimentação e o aprendizado contínuo. Isso pode envolver a revisão de processos de avaliação de desempenho, a implementação de programas de mentoria reversa e o incentivo a projetos experimentais.
Ao abraçar a incerteza como uma ferramenta estratégica, as organizações podem transformar o que antes era visto como um obstáculo em um poderoso catalisador para a inovação e o crescimento sustentável.

É videomaker sênior na Flash. Formada em audiovisual, tem experiência em desenvolvimento de identidade visual, fotografia, design, animação e edição de vídeos.