Como prevenir e combater o bullying no trabalho? Dicas para o RH
O bullying no ambiente de trabalho é mais comum do que se pensa e traz mais prejuízo do que costumamos imaginar. Entenda como o RH pode lidar com essas situações.

O bullying no trabalho é um assunto sério, que traz prejuízos emocionais e financeiros tanto para profissionais quanto para empresas. Infelizmente, a prática que por muito tempo esteve associada ao ambiente escolar está cada vez mais enraizada no ambiente corporativo.
Dados de 2024 da Workplace Bullying Survey (WBI) mostram que 52,2 milhões de profissionais já sofreram bullying no trabalho nos Estados Unidos, o que equivale a 30% da força de trabalho do país. Além deles, 22,6 milhões passaram por alguma experiência indireta de bullying e se sentiram afetados de alguma forma.
Combater o bullying corporativo e promover ambientes de trabalho emocionalmente saudáveis não é apenas uma questão ética para as empresas. É também uma decisão estratégica para quem busca retenção de talentos, melhoria de performance e redução de riscos trabalhistas.
Por isso, neste artigo, vamos explicar o que configura exatamente o bullying no trabalho, os impactos que ele pode trazer e como você pode identificar situações desse tipo mais rapidamente.
O que é bullying no trabalho?
Bullying no trabalho, também conhecido como bullying corporativo – workplace bullying ou mobbing –, é um conjunto de atos intencionais e repetitivos que expõem uma pessoa, o chamado alvo, a situações humilhantes, constrangedoras ou vexatórias no ambiente de trabalho.
O termo 'bullying' tem origem na palavra inglesa "bully", que significa "valentão", e passou a ser utilizado internacionalmente para descrever comportamentos de intimidação, agressão e violência física ou psicológica, tanto em ambientes escolares quanto corporativos.
Esses atos podem ser praticados por colegas, líderes ou grupos – de forma direta ou sutil. Diferentemente do assédio moral no trabalho, o bullying não necessariamente é praticado por alguém que tenha um cargo superior ao da vítima. O bully, ou valentão, é quem adota uma atitude hostil, direcionando suas ações para intimidar, humilhar ou desmotivar o alvo, prejudicando seu desempenho e bem-estar.
É importante esclarecer também que o bullying não envolve apenas agressão física ou verbal explícita. Ela pode ocorrer de diferentes formas: violência física, agressão verbal, psicológica ou digital. A prática pode se disfarçar em brincadeiras recorrentes, que são aparentemente engraçadas, mas ultrapassam o limite do respeito e geram exclusão social, sabotagem, fofocas, microagressões ou qualquer comportamento cuja atitude tenha o objetivo de isolar, intimidar, humilhar ou desestabilizar emocionalmente o profissional.
Dica de leitura: Gordofobia merece tanta atenção quanto racismo e homofobia, diz a psicóloga e ativista Gabi Menezes.
O que configura bullying no trabalho?
Para entender o que configura essa prática no trabalho é preciso considerar que nem todo conflito ou desentendimento é bullying.
Basicamente, o bullying é:
- Repetitivo. Ou seja, não é um episódio isolado que acontece uma vez (ainda que seja traumático para a vítima);
- Intencional. Isso significa que há intenção de causar desconforto, medo ou desvalorização por meio de ações específicas e planejadas.
- Direcionado. O bullying foca pessoas específicas. Ou seja, se um profissional pratica brincadeiras constrangedoras cada dia com uma pessoa, essa prática pode ser preocupante e condenável, mas possivelmente não configure bullying.
- Desigual. Em geral, há um desequilíbrio de poder que não necessariamente está relacionado ao nível hierárquico do cargo.
Entre as ações que podem caracterizar bullying no ambiente de trabalho estão críticas constantes e sem fundamento, humilhações públicas ou privadas, isolamento, exclusão de atividades, além de piadas ofensivas e ameaças.
Além do impacto emocional e psicológico, isso também pode gerar consequências jurídicas, como a obrigação de indenizar a vítima por danos morais, tanto por parte do agressor quanto da empresa que se omite diante dessas situações.
Como identificar o bullying no ambiente de trabalho?
Identificar o bullying no ambiente de trabalho nem sempre é fácil porque muitas atitudes de quem pratica bullying podem ser confundidas com comportamento bem-humorado ou informal.
Não apenas o departamento de Recursos Humanos (RH), mas para todos, é fundamental observar a atitude do agressor, pois ela pode indicar hostilidade direcionada a um alvo específico. Além disso, pesquisas mostram que identificar padrões de bullying é essencial para combater o problema.
Caso perceba sinais, a pessoa pode buscar apoio conversando com um colega de confiança. É importante, então, prestar atenção em algumas situações.
Exemplos comuns de bullying no trabalho
- Ignorar sistematicamente um colaborador em reuniões ou e-mails, excluindo-o de conversas importantes por e mail;
- Fazer piadas, críticas destrutivas ou comentários negativos sobre aparência, crenças ou características pessoais;
- Praticar humilhações frequentes, expondo o colaborador ao ridículo diante dos colegas;
- Sobrecarregar propositalmente um funcionário, enquanto outros têm demandas menores;
- Atribuir erros injustamente ou boicotar entregas;
- Espalhar rumores ou desinformações;
- Praticar violência física, como empurrões ou agressões, como forma extrema de bullying.
Sinais de que o ambiente corporativo está sendo afetado
Outra estratégia importante para identificar situações de bullying é observar o ambiente de trabalho porque, mesmo quando não há agressões explícitas, a prática gera consequências e deixa sinais.
Pesquisas recentes apontam que o bullying pode causar impactos significativos na saúde mental e no desempenho dos colaboradores, reforçando a necessidade de ações concretas para identificar e combater esse problema.
É preciso ficar atento a mudanças de comportamento, padrões de exclusão e relações marcadas por medo, constrangimento ou silenciamento.
Muitas vezes, as vítimas não denunciam os agressores porque têm medo de retaliação, uma nova humilhação, ou simplesmente porque normalizam a situação ao longo do tempo. Logo, isso não evita que ela seja prejudicial, inclusive podendo resultar em danos morais e processos judiciais contra a organização ou o próprio responsável por fazer bullying.
Sinais que podem indicar a presença de bullying na empresa são:
- Queda repentina de desempenho ou produtividade de um colaborador;
- Isolamento social em reuniões ou atividades coletivas;
- Absenteísmo (faltas, atrasos ou pedidos de afastamento);
- Feedbacks negativos constantes sem embasamento técnico;
- Tentativa de evitar contato com determinada liderança ou equipe;
- Queixas informais sobre clima hostil ou “brincadeiras de mau gosto”.
Considere que nem sempre os sinais de bullying são evidentes. Por isso, é preciso ter escuta ativa, analisar padrões e adotar ações estratégicas para identificar e prevenir o problema, além de ficar atento às dinâmicas de poder e cultura da organização.
Bullying no trabalho é crime?
A legislação brasileira ainda não possui um artigo específico sobre bullying no trabalho. No entanto, é preciso considerar que o comportamento pode ser enquadrado como assédio moral. Em alguns casos, pode até configurar crime contra a honra ou a dignidade humana, dependendo da gravidade e do contexto.
Isso significa que atos de bullying podem ser punidos e, dependendo do caso, a empresa pode ser responsabilizada civil e até criminalmente de acordo com as leis trabalhistas de proteção ao trabalhador.
Confira também nosso conteúdo exclusivo sobre NR-1 e Nova Lei de Saúde Mental: tudo o que o RH precisa saber.
Consequências do bullying no trabalho (para o indivíduo e para a empresa)
Esse contexto impacta tanto a vítima quanto a empresa. Em geral, as principais consequências do bullying são:
- Aumento do absenteísmo e da rotatividade (turnover);
- Queda na produtividade e no engajamento;
- Deterioração da cultura organizacional;
- Riscos jurídicos, incluindo processos por danos morais, além de riscos de imagem e reputação;
- Prejuízo na retenção de talentos;
- Agravamento de quadros de ansiedade, depressão, humilhação, humilhações e burnout.
E aqui vale um alerta: uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, globalmente, 12 bilhões de dias úteis sejam perdidos todos os anos devido à depressão e à ansiedade dos profissionais. Isso custa US$1 trilhão por ano em perda de produtividade. Ou seja, está claro que o impacto também é financeiro.
Bullying no trabalho pode dar justa causa?
A demissão por justa causa é uma medida extrema, mas necessária em casos em que o bullying ultrapassa todos os limites do aceitável.
Quando o comportamento do agressor se torna recorrente – e chega a configurar assédio moral –, intencional e causa danos graves à vítima ou à própria empresa, a demissão por justa causa pode ser aplicada. Isso significa que os agressores perdem direitos trabalhistas importantes, como aviso prévio e parte das verbas rescisórias, reforçando a seriedade do problema.
Para que a justa causa seja aplicada corretamente, é fundamental que as empresas tenham políticas claras sobre o que constitui bullying e quais são as consequências para quem pratica esse tipo de comportamento. Além disso, é importante que haja um processo de apuração transparente, garantindo o direito de defesa do acusado e a proteção da vítima. Dessa forma, demonstra compromisso com um ambiente saudável e seguro, protegendo seus colaboradores e mostrando que não tolera práticas abusivas.
Papel do RH contra o bullying no trabalho
A área responsável pelos recursos humanos – ou gestão de pessoas – tem um papel essencial e estratégico no enfrentamento ao bullying, inclusive no contexto internacional de workplace bullying. É preciso criar políticas e processos que impulsionem o respeito, a empatia e o acolhimento, além de implementar ações concretas para prevenir e combater práticas abusivas.
Um caminho para isso é estabelecer um código de ética profissional claro, que oriente os colaboradores, esclarecendo o que é um comportamento respeitoso e quais são as consequências para práticas abusivas.
Promover o treinamento de liderança com foco em escuta ativa, inteligência emocional no trabalho e gestão humanizada também ajuda. Vale a pena ainda investir em canais seguros e sigilosos de denúncia, como a criação de um e mail exclusivo para esse fim, que ofereçam garantia de não retaliação. Além disso, pode ser necessário trabalhar em conjunto com outras áreas (como compliance ou jurídico) em casos que exijam apuração formal.
Quer aprofundar mais no assunto? Confira nosso checklist para promover a saúde mental na sua empresa em 6 passos.
7 dicas para o RH prevenir e combater o bullying corporativo
O setor de RH deve adotar uma postura ativa na identificação de comportamentos abusivos no ambiente de trabalho. Isso inclui criar canais de denúncia anônimos, promover pesquisas de clima organizacional e estimular feedbacks construtivos entre as equipes.
É fundamental orientar sobre a diferença entre críticas construtivas e ataques pessoais, lembrando que a repetição de atos abusivos pode gerar consequências jurídicas para empresa e agressor.
1. Inclua o tema no onboarding e em treinamentos obrigatórios
Aproveite a integração de novos colaboradores para apresentar a cultura empresarial e deixar claro que comportamentos abusivos não são tolerados. Realize treinamentos periódicos sobre o assunto, apresentando exemplos práticos e a conduta esperada.
Ajuste a política de compliance para incluir assédio moral e bullying como faltas graves.
2. Estimule a cultura do feedback respeitoso
Crie um ambiente onde as pessoas possam dar e receber críticas com segurança. Oriente líderes e equipes sobre comunicação empática, destacando pontos fortes e oportunidades de melhoria sem causar constrangimentos.
Incentive a ação imediata diante de situações inadequadas, como buscar apoio de colegas ou relatar comportamentos problemáticos.
3. Mapeie sinais de risco e comportamentos nocivos, mesmo que “sutis”
Use enquetes anônimas, caixas de sugestão e pesquisas de clima para captar sinais de problemas. A escuta ativa em conversas formais e informais é essencial para identificar padrões de exclusão, medo e silêncio.
Observe que comportamentos abusivos começam com atitudes sutis. Esteja atento a repetições de humilhações, críticas excessivas ou intimidações, mesmo quando mascaradas de "brincadeira".
4. Ofereça canais de acolhimento para as vítimas
Implemente um caminho claro para acolher vítimas, incluindo:
- Canal seguro para denúncias (e-mail exclusivo com garantia de sigilo);
- Processo de mediação conduzido pelo RH;
- Encaminhamento para apoio psicológico quando necessário; e
- Orientação sobre direitos e possível reparação por danos morais.
5. Assuma um papel estratégico
O RH deve ter atuação ativa no cuidado da cultura organizacional, promovendo ambiente saudável e monitorando indicadores. Use pesquisas e dados para identificar situações de risco e agir preventivamente.
Esteja atento às consequências jurídicas de omissão ou condutas abusivas no ambiente corporativo.
6. Crie campanhas internas de conscientização
Desenvolva campanhas com linguagem acessível e exemplos do cotidiano para manter o tema em evidência. Aproveite iniciativas como Setembro Amarelo e Janeiro Branco para abordar saúde mental, respeito e segurança emocional.
7. Ofereça benefícios voltados à saúde mental
Disponibilize benefícios como vale-terapia para demonstrar que a empresa valoriza o bem-estar dos colaboradores. Apoiar é fundamental para prevenir comportamentos abusivos e promover um ambiente mais acolhedor.
Bullying no trabalho não é frescura, é assunto sério!
O bullying no ambiente de trabalho é um problema que vai muito além de simples desentendimentos: ele compromete o psicológico, o bem-estar e a produtividade dos funcionários, além de prejudicar a imagem e o desempenho do negócio.
Por isso, é fundamental que as empresas adotem medidas proativas para prevenir e combater o bullying, criando políticas claras, procedimentos eficazes e canais de comunicação acessíveis para todos.
Lembre-se: o bullying no ambiente de trabalho é um problema coletivo, e a responsabilidade de combatê-lo é de todos. Com medidas eficazes, canais de comunicação abertos e uma postura firme contra qualquer forma de violência, é possível transformar o ambiente corporativo em um espaço de crescimento, respeito e realização para todos.

O meu trabalho é encontrar soluções de conteúdo e desenvolver histórias nos momentos certos. Para isso, uso todos os tipos de linguagem a que tenho acesso: escrita criativa, fotografia, audiovisual, entre outras possibilidades que aparecem ao longo do caminho.