Sente que está atrasado no trabalho? Entenda a disforia de carreira
Fenômeno crescente, a disforia de carreira afeta a autoestima, o engajamento e o propósito. Entenda como se manifesta e o que o RH pode fazer para evitar.
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Entre notificações de promoções, posts de viagens a trabalho dos sonhos e dicas de profissionais que parecem já ter “chegado lá” nas redes sociais, é fácil cair na comparação e sentir que está atrasado na vida profissional. Cada vez mais presente no mercado corporativo, essa sensação de estar sempre um passo atrás tem nome: disforia de carreira, que é uma percepção distorcida da própria realidade.
A palavra disforia vem do grego e, em seu sentido original, significa “dificuldade de suportar”. No universo profissional, ela descreve o descompasso entre o que alguém conquista e o quanto se sente merecedor ou satisfeito com essas conquistas. O termo também aparece em outros contextos — como na saúde (disforia corporal) e nas finanças (disforia financeira).
Uma sensação que se agrava com a velocidade com que as mudanças têm ocorrido atualmente, principalmente com a chegada da inteligência artificial generativa. Em um mercado, competitivo e hiperconectado, a disforia de carreira se torna cada vez mais comum, especialmente entre aquelas pessoas que se cobram demais.
“É aquela máxima de olhar para a ‘grama do vizinho’ e se comparar. O problema é que a gente só vê o palco do outro, nunca o bastidor”, explica Priscilla Couto, especialista em carreira, liderança e gestão de pessoas, LinkedIn Top Voice e fundadora da PSC Consultoria.
Essa sensação de desencaixe profissional já aparece em números globais. Pesquisa da Gallup do ano passado revelou que apenas 45% dos trabalhadores têm clareza sobre o que se espera deles no trabalho, e menos de um terço diz se sentir conectado ao propósito da empresa. Para os autores do estudo, esse “grande desapego” está diretamente ligado à falta de reconhecimento e à dificuldade de enxergar sentido no que se faz.
Disforia de carreira x síndrome do impostor
A disforia de carreira pode ser facilmente confundida com a síndrome do impostor, mas os dois fenômenos têm raízes diferentes.
Enquanto a síndrome do impostor faz a pessoa acreditar que seu sucesso é fruto de sorte ou engano e que, a qualquer momento, será “descoberta”, a disforia ocorre quando o profissional reconhece suas conquistas, mas não se sente plenamente satisfeito com elas. É o sentimento de que “nunca é o bastante”. Mesmo quando há resultados concretos, ele sempre acha que está devendo algo.
Principais sinais da disforia de carreira:
- Dificuldade de celebrar conquistas;
- Rejeição de elogios;
- Ansiedade em situações de visibilidade, como reuniões ou promoções;
- Em casos mais graves, há quem recuse oportunidades por achar que não está à altura.
“Profissionais com disforia de carreira muitas vezes se sentem presos, sem motivação para se envolver nas tarefas diárias. A frustração e a irritabilidade passam a ser constantes”, afirma Soraya Haro, especialista em desenvolvimento de talentos.
Além disso, outros sinais para ficar de olho que podem estar relacionados à disforia:
- Dificuldade em se engajar em projetos;
- Frustração e irritabilidade frequentes;
- Comparações constantes com os outros;
- Sentimento de inadequação ou incompetência;
- Pensamentos recorrentes sobre mudar de carreira;
Impacto da disforia de carreira nas empresas
As redes sociais, segundo as especialistas ouvidas pelo blog da Flash, funcionam como um combustível poderoso para o problema, porque potencializam comparações.
“No LinkedIn e no Instagram, a vida do outro é sempre melhor. Perdemos totalmente a noção de que a realidade é diferente para as pessoas, mas a visão que temos de nós influencia também. Se tenho uma autoestima elevada, dificilmente essas comparações irão me afetar; caso contrário, elas podem se tornar um gatilho para o problema”, observa Priscilla.
Ou seja, raramente a disforia aparece sozinha. Ela pode amplificar sintomas de ansiedade, alimentar a síndrome do impostor e até contribuir para o burnout. “A comparação constante nublou a visão sobre quem somos, afetando nossa produtividade, engajamento e até os relacionamentos no trabalho”, afirma a especialista.
O impacto vai além do desempenho individual. Profissionais insatisfeitos tendem a se isolar e a participar menos, o que prejudica a colaboração e pode criar um ambiente de trabalho mais tenso e desconectado.
Como o RH e as lideranças podem agir
Para Soraya, lidar com a disforia de carreira é um desafio coletivo. “O RH deve atuar como facilitador, criando espaços de escuta ativa e programas de bem-estar e desenvolvimento profissional. Mais do que oferecer treinamentos, é sobre promover segurança psicológica”, destaca.
Gestores e RH também precisam atuar juntos para criar um ambiente acolhedor e transparente, capaz de reduzir comparações e fortalecer a autoestima profissional.
“É preciso que o RH treine seus líderes para conversas difíceis e também para feedbacks frequentes. Não apenas de correção, mas também de elogio, o famoso feedforward. Além disso, fomentar uma cultura diversa, com senso de pertencimento e livre de assédio, é fundamental”, reforça Priscilla.
Como identificar e lidar com a disforia de carreira
Entre os sinais que merecem atenção dos líderes estão colaboradores que evitam se destacar, rejeitam elogios ou demonstram queda de engajamento. “Conversas frequentes e observação atenta ajudam a perceber mudanças sutis de comportamento”, aconselha Soraya.
As especialistas sugerem estratégias simples, mas eficazes, para que os colaboradores também possam lidar com o problema:
- Listar conquistas recentes;
- Pedir feedbacks sinceros a colegas e líderes;
- Reduzir o tempo nas redes sociais;
- Praticar autocompaixão e mindfulness;
- Buscar mentoria ou apoio psicológico quando necessário.
A disforia de carreira é um reflexo da pressão constante por sucesso e reconhecimento. Ao entender suas causas e agir preventivamente, empresas e profissionais podem construir um ambiente mais saudável, com propósito, equilíbrio e pertencimento.
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Jornalista de formação, acredito que as palavras têm o poder de gerar experiências capazes de promover uma transformação positiva no mundo. Veterana do marketing de conteúdo, tenho também habilidades de UX writer e analista de SEO.