Ford foca em desenvolvimento de talentos no Brasil para impulsionar inovação global
Fernanda Ramos, diretora de RH da Ford América do Sul, conta como a empresa tem apostado no desenvolvimento de talentos para impulsionar inovação.

Segundo o relatório Global Digital Talent Barometer 2024, o Brasil ocupa a 41ª posição entre as 64 nações avaliadas quando o assunto é a capacidade de formar e reter profissionais qualificados nessa área. O dado escancara um desafio que vai além da tecnologia e passa por educação, inovação e investimento contínuo em capital humano.
Na contramão desse cenário, a Ford reformulou sua estratégia de negócio e, desde 2021, passou a focar na exportação de conhecimento automotivo e no desenvolvimento de tecnologias e talentos nessa área no Brasil, uma decisão alinhada com seu novo posicionamento: ser uma empresa de tecnologia.
Hoje, seu Centro de Desenvolvimento e Tecnologia, em Camaçari (BA), reúne mais de 1.500 engenheiros e especialistas, dos quais 85% estão dedicados a projetos globais, incluindo carros elétricos e conectividade de ponta Em 2024, essa estrutura foi responsável por gerar cerca de US$ 500 milhões.
“Buscamos talentos focados em AI e analytics, além de competências específicas. E, claro, temos que oferecer um ambiente com foco em desempenho, mas que seja respeitoso e incentive a inovação a partir da diversidade de talentos existentes”, explica Fernanda Ramos, diretora de Recursos Humanos da Ford América do Sul, que conversou com exclusividade com o blog da Flash.
Neste papo, que você confere a seguir, a executiva detalha os projetos desenvolvidos no Brasil, os desafios para atrair e reter talentos e o papel do RH para acompanhar as mudanças tecnológicas do mercado.
Como a Ford decidiu investir em tecnologia e desenvolvimento e qual é a importância do Brasil para a estratégia global da marca?
Fernanda Ramos: Depois de uma transformação global no nosso modelo de negócio, passamos a focar em alguns segmentos importantes, nos quais temos expertise: SUVs, picapes, veículos comerciais e nos nossos ícones, que são os Mustangs. A partir daí, passamos a nos posicionar como uma empresa de tecnologia e, com essa decisão, veio também a escolha de manter um centro global de desenvolvimento tecnológico aqui no Brasil. Trata-se de um polo de exportação de inteligência nesse setor.
E como funciona esse polo?
Esse centro fica em Camaçari, na Bahia. Temos também o hub em Salvador e um campo de provas em Tatuí [interior de SP]. Hoje, 85% dos nossos 1.500 engenheiros trabalham para a engenharia global, ou seja, para Estados Unidos, Europa e China. Eles são responsáveis por desenvolver 35% das funcionalidades dos carros da Ford no mundo. No ano passado, esse trabalho gerou US$ 500 milhões em receita para a empresa.
E qual o impacto dessa mudança no RH?
Passamos a atender essa organização, que é mais ágil e tecnológica. É uma estratégia diferenciada, que passa primeiro por entender que tipo de perfil precisamos, que tenha uma combinação de ser técnico e focado nos comportamentos que a gente busca, que são a excelência e a colaboração. Passa também por qual a experiência que eu quero dar para essas pessoas daqui para frente.
Fizemos uma revisão grande no nosso plano de benefício, cultura, bem-estar, experiência com a marca e também passamos a ter um olhar importante em como desenvolvemos as lideranças, porque temos uma organização que trabalha com índices globais que exigem outras habilidades, além do perfil técnico.
Como ficou a cultura organizacional da empresa nesse processo?
Eu diria que essa transformação é uma jornada, centrada em um modelo de negócio que busca entregar produtos de qualidade no segmento em que atuamos, com uma experiência diferenciada para os clientes.
Para que isso aconteça, priorizamos tecnologia, inovação e agilidade, com foco em uma cultura que estimula o desenvolvimento contínuo, a capacidade de aprender e de se adaptar às mudanças. Isso gera engajamento com a marca no Brasil, na região e dentro da organização global, por meio do centro de tecnologia e desenvolvimento.
Como esse novo modelo de operação influencia na atração de talentos?
Esse modelo está centrado em tecnologia e inovação e, para isso acontecer, foi necessário consolidar uma marca empregadora. Essa marca recebe há três anos consecutivos a certificação da Top Employer, que garante consistência em inovação e a continuidade na melhoria dos processos. Para isso, há uma série de ferramentas.
Buscamos talentos focados em AI e analytics, além de competências específicas. E, claro, temos que oferecer um ambiente com foco em desempenho, mas que seja respeitoso e incentive a inovação a partir da diversidade de talentos existente.
Como o RH apoia a adaptação dos colaboradores?
O RH tem um papel fundamental em desenvolver ferramentas de gestão alinhadas à estratégia do negócio. Todos os nossos processos de atração, desenvolvimento, avaliação, planos de sucessão e remuneração estão voltados para valores como foco, excelência e colaboração. Também implementamos programas de desenvolvimento e iniciativas de bem-estar que dão suporte aos colaboradores nesses momentos de transformação.
Poderia falar um pouco mais sobre as iniciativas para promover o bem-estar dos colaboradores?
O bem-estar é parte central da nossa estratégia. Adotamos a plataforma Flash para centralizar benefícios como alimentação, mobilidade e conectividade, e utilizamos recursos como o Flash Nutri, com planos alimentares. Oferecemos jornada reduzida nas sextas-feiras, horários flexíveis, acesso à plataforma Degreed para aprendizado e ao TotalPass para atividades físicas.
Temos ainda o programa C4 Life, com orientação jurídica, financeira, psicológica e social, além de programas de prevenção com nossos fornecedores de saúde. Monitoramos o uso dessas ferramentas para garantir sua eficácia.
Por que formar talentos em vez de apenas contratá-los prontos?
Temos uma estratégia combinada: atração e formação. Sabemos que o mercado é competitivo, mas acreditamos que o desenvolvimento interno e a permanência são essenciais para alcançar resultados sustentáveis. A formação de talentos fortalece a marca empregadora, atrai bons profissionais desde a entrada e reduz perdas de conhecimento com rotatividade.
Você mencionou a importância de desenvolver as lideranças. Pode falar um pouco mais sobre isso?
A liderança tem um papel essencial na gestão de resultados e equipes. Criamos o programa Transformation on Leadership, com foco inicial na engenharia, para apoiar lideranças técnicas na atuação com equipes globais. O programa foi adaptado para outras áreas, como manufatura, com foco em Servant on leadership, e áreas administrativas, com ênfase em liderança global.
Temos também o ATP (Acelerador de Talentos), voltado para identificar talentos com potencial de crescimento. Oferecemos subsídio de US$ 1.000 para treinamentos adicionais, consultoria externa individualizada e oportunidades de exposição com lideranças da empresa.
E como o RH acompanha a evolução e o impacto desses programas?
Monitoramos indicadores como nível de satisfação, que tem superado os 90%, e a progressão dos participantes. Avaliamos também a performance de liderança por meio da pesquisa de clima “The Voice”. Temos diferentes formas de monitorar a evolução desses programas e, inclusive, a própria retenção das pessoas na organização.
Como conciliar as demandas do negócio com o compromisso com a inclusão e a transformação social?
Acreditamos que a educação é uma ferramenta de transformação. Por isso, nossas ações sociais estão alinhadas à estratégia do negócio. O Ford Enter [curso gratuito de programação front-end] é um exemplo disso, conectando populações em situação de vulnerabilidade social.
Outro projeto é o Garotas 4.0, que incentiva meninas do ensino fundamental ou médio a se interessarem por STEM (sigla para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em inglês).
A estratégia de pessoas precisa estar totalmente conectada com a estratégia do negócio. Para entregar produtos e processos de qualidade, precisamos de uma equipe forte, capacitada e engajada. Nosso foco é investir no desenvolvimento, criar um ambiente positivo e manter uma cultura alinhada aos nossos valores. Além disso, temos o compromisso de devolver algo às comunidades em que atuamos. Isso faz parte do nosso DNA e garante que continuemos crescendo e evoluindo como marca.
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