Flash Humanidades: guru do RH e especialista do MIT apresentam papel estratégico do RH na era da Inteligência Artificial
Flash Humanidades 2024 reuniu Kate Darling e Dave Ulrich para debater os impactos da Inteligência Artificial no futuro do trabalho e o papel estratégico do RH.
Terceira edição do evento reuniu duas das maiores referências mundiais em gestão de pessoas e tecnologia para debater os impactos da Inteligência Artificial no trabalho e nas empresas (créditos: Luiza Martinez)
Integrar as novas tecnologias ao mundo do trabalho e aos negócios, e não apenas implementá-las, é a chave para que todo o ecossistema empresarial possa se beneficiar de inovações como robôs e Inteligência Artificial (IA). Essa foi a principal conclusão das discussões apresentadas no Flash Humanidades 2024: Ideias que Fazem Voar, realizado em São Paulo, na noite da última quinta, 25 de julho.
Os norte-americanos Dave Ulrich, professor da Universidade de Michigan e especialista em Recursos Humanos, e Kate Darling, pesquisadora do MIT, foram os principais nomess da terceira edição do evento da Flash, que reuniu mais de 300 dos principais líderes em gestão de pessoas do país.
Durante o evento, eles abordaram questões sociais e éticas da IA, além das mudanças e desafios enfrentados pelas empresas – sobretudo os setores de gestão de pessoas – para tirar melhor proveito da automatização no mundo corporativo. Des(emprego), estratégia e humanização foram tópicos presentes nas duas apresentações e no debate “Fim do mundo ou evolução: o que esperar do futuro?”, mediado pelo jornalista Caco Barcellos.
O Flash Humanidades 2024 teve apresentação da jornalista Rita Batista, que abriu o evento ao lado de Ricardo Salém, fundador e CEO da Flash. "É um grande prazer realizar mais um Flash Humanidades, que está em seu terceiro ano, período em que vimos mudanças importantes no mundo do trabalho. O evento marca também os 5 anos da Flash, empresa que nasceu ouvindo o RH. É trocando com vocês, em encontros como esses, que identificamos onde inovar e como desenvolver soluções que os apoiem nos desafios de hoje e do futuro".
Kate Darling e as equipes ciborgues
O primeiro painel foi de Kate Darling com o tema “Equipes ciborgues: cérebro e algoritmos”, que tratou da interação entre pessoas e robôs.
“Tendemos a projetar características humanas em animais domésticos e tendemos a fazer o mesmo com os robôs, o que cria uma ligação afetiva. Até para tecnologias mais simples, como o aspirador-robô, as pessoas dão nomes e chegam a evitar a troca por modelos mais modernos”, disse a pesquisadora, que estuda as implicações éticas e legais da tecnologia há 13 anos.
Kate Darling durante o Flash Humanidades 2024 (créditos: Juliana Cordaro)
Para ela, esse tipo de relação, influenciada pela antropomorfização das máquinas (atribuição de características humanas), é problemática porque gera a percepção de que os robôs são uma ameaça aos empregos. “Não faz sentido comparar a inteligência de robôs e humanos. Temos máquinas que são ‘mais inteligentes’, mas que também erram bastante”, afirma.
Kate propõe que a criação dos robôs seja pensada em uma analogia com os animais, que sempre foram utilizados para apoiar os homens no trabalho, mas nunca vistos como uma ameaça, como possíveis substitutos aos profissionais.
“Bichos ajudam os homens em diferentes atividades. Alguns exemplos são os pombos-correios, conhecidos desde os anos 1920, e os golfinhos, que atuam em geolocalização. Essa analogia ajuda a abrir a cabeça para novas aplicações dessas máquinas, como complementares, e não como substitutas”, falou.
Dave Ulrich e a nova era do RH
Depois de Kate, foi a vez de Dave Ulrich apresentar suas pesquisas sobre a influência da tecnologia nas mudanças na gestão de pessoas na palestra “Nova era do RH: unindo máquinas e humanos”.
“Com a evolução das aplicações de Inteligência Artificial generativa, muita gente sentiu medo de perder o emprego, de sua profissão desaparecer, mas eu vejo a IA como ferramenta, não como substituta”, disse.
Para ele, enquanto a inteligência artificial reproduz o passado, não cria futuro. Quem faz isso são as pessoas. “Cabe à inteligência humana interpretar e usar os dados disponíveis, cada vez em maior quantidade, para criar soluções, indicar o que pode ser feito para melhorar a vida e o desempenho das empresas”.
Dave Ulrich durante o Flash Humanidades 2024 (créditos: Juliana Cordaro)
Para Dave, em meio a tantas mudanças na sociedade e no trabalho, os líderes de RH precisam pensar em como fazer a diferença, em como fazer os trabalhadores terem brilho nos olhos. “O papel do líder não é contar a própria história, mas ajudar as pessoas a construir suas próprias histórias”.
Por isso, diz, o RH tem um papel cada vez mais estratégico nas empresas: “O que o setor de gestão de pessoas pode dar de mais importante ao colaborador? Não é o melhor treinamento, a sensação de propósito ou o sentimento do pertencimento. O melhor que pode ser dado é o sucesso no mercado, porque, sem ele, não existe trabalho”, explica.
Segundo o especialista, considerado o “guru do RH”, o papel dos Recursos Humanos é atender todas as pessoas que se relacionam com a empresa.
“O RH atende trabalhadores, diretores e clientes, e tem de criar valor para as companhias. Isso começa de fora para dentro, nos stakeholders, com o pensamento: do que clientes e investidores precisam?”.
Dave afirma que a cultura da empresa é definida pela maneira como ela quer ser vista no mercado, pela forma como deseja ser conhecida e reconhecida.
“É aí que o RH e a tecnologia se encontram: no ambiente corporativo, as tecnologias têm de ser usadas para potencializar as habilidades humanas. Em RH, oferecemos o planejamento da força de trabalho, mas isso está mudando. Temos de entregar a execução das tarefas que as companhias precisam. O futuro do RH é encontrar quem pode fazer melhor cada tarefa, e, nisso, quem sabe usar IA vai, provavelmente, substituir quem não sabe”, finalizou.
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Jornalista especializada na cobertura de economia, carreiras e cultura. Trabalhou na Folha de S. Paulo, Agora S. Paulo, Record, Globo e UOL. Escreve para a Flash e também é pesquisadora e professora universitária, com passagens pela UNESP, USP e UFRGS.