Opinião: 7 insights dos maiores eventos globais de RH sobre o futuro do trabalho
Isadora Gabriel, CHRO da Flash, traz insights do Talent Connect e do Gartner RH Symposium, que mostram como transformar visão em realidade.
Todo mundo fala sobre o futuro do trabalho, mas, na prática, como ele está se desenhando e o que isso exige de nós, líderes de pessoas? Essa reflexão ganhou ainda mais força para mim, ao participar de dois grandes eventos internacionais de RH: o Talent Connect, evento global do LinkedIn para executivos de RH, do qual participei pela quarta vez, e o Gartner HR Symposium, um dos maiores encontros globais de tecnologia.
Os dois eventos reuniram lideranças do mundo inteiro para discutir, com profundidade, o que está moldando a gestão de pessoas. Foram dias intensos: mais de 40 sessões, conversas profundas, painéis inspiradores e trocas riquíssimas.
Voltei dos Estados Unidos com a sensação de que estamos no limiar de uma transformação que exige de nós, líderes e equipes de RH, estratégia, consciência e ação para abandonar o que não funciona mais, entender o que realmente está mudando e transformar visão em realidade.
A seguir, compartilho os aprendizados que mais me marcaram e que já começaram a influenciar a forma como penso o RH, a liderança e o trabalho que vamos desenhar na Flash nos próximos anos.
- Liderança começa por desaprender
Jay Shetty abriu o Talent Connect, cujo tema foi “Transform your vision into reality” (em português "Transforme sua visão em realidade"), com uma provocação: evolução não acontece quando acumulamos tarefas, processos e certezas, mas quando abrimos espaço para o novo.
Ex-monge e Chief Purpose Officer (diretor de propósito, em português) da empresa de bem-estar Calm, app de meditação número 1 do mercado americano, ele nos convidou a questionar hábitos, crenças e rotinas que funcionaram no passado, mas que podem atrapalhar no presente. Insistir neles é como tentar encaixar um triângulo dentro de um quadrado, uma metáfora perfeita para o momento que estamos vivendo.
Além disso, trouxe quatro práticas simples e aplicáveis imediatamente:
- Gratidão: libera oxitocina, aumenta positividade e melhora decisões.
- Insight diário: aprender algo novo todos os dias mantém o mindset de crescimento vivo.
- Mindfulness: cinco minutos de presença já mudam a energia de um time.
- Movimento: cuidar do corpo melhora foco, humor e clareza.
Penso que é simbólico que um evento tão técnico comece por um convite tão humano. Talvez porque, no fim, toda transformação organizacional nasça a partir da mudança de mentalidade e só depois se traduza em processos, comportamentos e resultados.
- Mercado de trabalho global: um cenário que não podemos ignorar
O LinkedIn trouxe atualizações importantes sobre a força de trabalho global:
- Contratações seguem 20% abaixo do nível pré-pandemia;
- Engajamento global está em mínimos históricos e o desengajamento custa US$ 9,2 trilhões ao ano;
- 85% das vagas já pedem proficiência em IA;
- O número de profissionais adicionando IA ao perfil dobrou em um ano.
Os números reforçam algo que já sentimos no dia a dia: o mundo está reconfigurando prioridades, e a inteligência artificial está no centro dessa mudança.
Neste ano, como já falei aqui, a 3ª edição do Engaja/SA, realizado pela Flash em parceria com a FGV EAESP, mostrou que o desengajamento custa R$ 77 bilhões por ano no Brasil. Número que se reflete em menor produtividade, maior rotatividade, adoecimento, perda de foco e dificuldade de atrair e reter talentos. E, por isso, insisto: engajamento não é “clima” ou algo acessório; é estratégia de negócios.
- Inteligência artificial não é sobre ferramentas, é sobre processo e mindset
Um dos cases que mais me chamou atenção nos eventos foi o da Salesforce, que estruturou sua estratégia de IA em quatro pilares:
- Redesenhar o trabalho;
- Requalificar pessoas para operar e liderar agentes de IA;
- Redistribuir responsabilidades além do job description;
- Rebalancear tarefas entre humanos e agentes, com clareza ética.
Percebo que um ponto importante nesse processo é que não existe tecnologia capaz de compensar processos defasados.
E essa mesma ideia reapareceu de forma muito contundente durante um jantar oferecido pela consultoria global Mercer. Nele, um brilhante jovem de 26 anos, que criou uma solução de IA conversacional para desenvolvimento de pessoas, resumiu o “x” da questão em uma frase: “Vocês estão tentando resolver um problema de mindset digital do RH comprando tecnologia. E isso está errado.”
E ele tem razão: não adianta sofisticar ferramentas se não redesenharmos antes a forma como o trabalho acontece. Sem processo bem estruturado, dados integrados e uma cultura preparada, qualquer projeto de IA vira “garbage in, garbage out” (em português: lixo entra, lixo sai).
- Skills viram o novo sistema operacional das organizações
Nos dois eventos, um tema foi transversal: habilidades. A pergunta deixa de ser “qual é o cargo?” e passa a ser “quais skills são necessárias para resolver o problema?”.
E isso afeta tudo: recrutamento, desenvolvimento, performance, mobilidade interna, desenho organizacional, inovação e até a agilidade dos times.
A IA acelera esse processo: mapear habilidades, que antes levava meses, hoje pode ser feito em semanas e atualizado continuamente. É uma mudança profunda no papel do RH.
- O maior desafio dos líderes hoje é… atenção
No Gartner HR Symposium, o doutor. Paul Redmond, ex-diretor de Student Experience & Enhancement da Universidade de Liverpool e um especialista em gerações, trouxe 3 dados impressionantes:
- Tocamos no celular 2.617 vezes por dia;
- A Gen Z passará 25 anos da vida olhando para telas;
- A atenção será a habilidade mais escassa e valiosa do futuro.
Neste contexto, onde a economia da atenção ganha força, liderar deixa de ser apenas orientar para criar condições reais de foco, clareza e intencionalidade. Não é só produtividade, mas também sobre saúde mental, qualidade de pensamento e profundidade nas decisões.
- O RH do futuro não cabe nas caixinhas do passado
Os eventos confirmaram algo que já vínhamos amadurecendo na Flash: o RH vai precisar redesenhar não só processos, mas a forma como o trabalho é organizado.
Com a IA ganhando espaço, o foco deixa de ser a respeito de funções e passa a ser sobre projetos, skills, squads multidisciplinares, mobilidade fluida, trabalho a ser feito e impacto real nos problemas do negócio.
Isso exige líderes mais generalistas, capazes de conectar cultura, performance, estrutura, engajamento e tecnologia. Tudo está interligado.
Isadora Gabriel é CHRO da Flash. Formada pela PUC São Paulo e com MBA Executivo pelo IESE Business School de Barcelona, tem mais de 15 anos de experiência na área de Recursos Humanos. Já passou por empresas como Único, Movile, Amaro, Banco Safra, Bolsa de Valores, Itaú, Telefônica e Unilever. Em sua coluna mensal no blog da Flash, fala sobre tendências e futuro do trabalho.

