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Veja o que mudou um ano após burnout virar doença do trabalho, segundo a OMS

Como a mudança de classificação do burnout pela OMS trouxe luz a um tema tradicionalmente estigmatizado nas empresas – a saúde mental

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Muito se falou de burnout no último ano, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) mudou a classificação da síndrome, que passou a ser descrita como um fenômeno ocupacional, ou seja, um esgotamento condicionado exclusivamente ao trabalho.

Um ano depois, qual foi o impacto dessa mudança? De bate pronto, é possível dizer que a validação de uma das mais importantes instituições do mundo trouxe luz a um tema tradicionalmente estigmatizado dentro e fora das empresas: a saúde mental.

Mas não foi só isso. A mudança de registro, que aconteceu no dia 10 de janeiro de 2022, tem sido fundamental para determinar limites a serem respeitados no ambiente profissional e também para oferecer informações detalhadas para que empregados, empregadores, RHs, advogados e juízes identifiquem os sinais de burnout – condição que afeta cerca de 30 milhões de trabalhadores brasileiros, segundo pesquisa da Associação Nacional de Medicina do Trabalho.

Por dentro do Janeiro Branco

O aniversário de um ano do reconhecimento do burnout como fenômeno ocupacional coincide com o 9º Janeiro Branco, campanha brasileira de conscientização sobre a saúde mental, que incentiva as empresas a aprofundar o debate sobre qualidade de vida, estresse, depressão e síndrome de burnout com seus colaboradores.

Leia também: O que alguns dos maiores executivos de RH esperam para 2023?

“Em 2019, 72% dos brasileiros sofriam alguma sequela de estresse, em diferentes níveis. Desses, 32% desenvolveram síndrome de burnout, o nível mais devastador de estresse, quando normalmente se necessita de ajuda especializada de médicos e psicólogos, além de tratamento com medicação”, explica Ana Maria Rossi, presidente no Brasil da ISMA-BR (International Stress Management Association).

Mudar esse olhar significa inverter a ordem das coisas na corporação, ou seja, pensar primeiro na saúde mental e física dos colaboradores e, depois, na conduta a ser adotada. “Isso permite que o trabalho seja preventivo e preditivo, não apenas reativo, quando o colaborador já adoeceu”, defende Ana Carolina Peuker, psicóloga e CEO da mental health tech BeeTouch.

“As empresas diferem muito em relação à curva de maturidade quanto às ações em saúde mental. Só as mais maduras já têm políticas de ‘compliance em saúde mental’, que inclui práticas, orientações de conduta, procedimentos, planos de ação e políticas direcionados ao tema”, explica a especialista.

Veja nosso especial sobre burnout e como as empresas devem agir na prevenção!

O que é o burnout?

A síndrome de burnout (do inglês, burn = queimar; out = exterior) é também conhecida como a síndrome do esgotamento profissional. Trata-se de um distúrbio de estresse crônico no trabalho, não administrado com sucesso. Uma relação de sintomas resultantes da exposição excessiva a condições estressantes, que afetam a saúde mental e física do trabalhador. E, segundo a OMS, caracteriza-se por três componentes determinantes:

Exaustão: estado de esgotamento extremo; sensação de não mais possuir recursos físicos, mentais e emocionais para agir

Alienação: perda de prazer, desinteresse agudo e desconexão emocional

Ineficácia: sensação de incompetência, desqualificação e falta de forças para sair do lugar

O diagnóstico do burnout associa a presença de sintomas físicos, mentais e comportamentais a fatores estressores (causas) detectados no ambiente de trabalho

As causas da síndrome de burnout

O burnout tem seis principais causas, ou fatores estressores, relacionados ao trabalho:

  • Sobrecarga de trabalho
  • Falta de autonomia e reconhecimento profissional
  • Recompensas insuficientes
  • Falta de apoio
  • Injustiça
  • Conflito de valores

Leia também:Entrevista exclusiva com Izabella Camargo sobre saúde mental nas empresas

Avanços com a classificação da OMS

Para especialistas, ainda é cedo para associar a classificação do burnout pela OMS com mudanças no comportamento e políticas de saúde mental em corporações. De acordo com eles, o principal ganho até agora foi criar limites que antes eram difíceis de definir.

“Em termos jurídicos, as empresas passam a ser responsabilizadas pelo adoecimento mental de seus colaboradores, que, por sua vez, passam a ter direito à licença médica remunerada, afastamento e até mesmo aposentadoria por invalidez em casos mais graves de esgotamento profissional”, afirma Ana Carolina.

Isso acontece porque a atualização na definição de burnout forneceu embasamento para que juízes do trabalho pudessem decidir sobre questões trabalhistas relacionadas à saúde mental, como mostra Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-BR.

“Essa alteração possibilitou estabelecer um nexo causal da síndrome de burnout com o trabalho. Isso é, aquele vínculo fático que liga o efeito à causa. Antes disso, quando o profissional entrava na Justiça responsabilizando a empresa por sua condição, a situação era mais vaga, era descrita como um esgotamento. Os magistrados não tinham uma definição tão precisa, então, essa mudança não apenas amparou a denúncia, mas estimulou empregadores a respeitarem os limites, sob risco de penalizações”, explica.

Como prevenir o burnout

Para Ana Maria Rossi, quando se trata de burnout, a maioria das empresas brasileiras ainda se concentra em tomar ações pontuais e paliativas. Há muito, portanto, a ser feito.

Ana Carolina complementa lembrando que o fortalecimento das pautas ESG é apenas mais um indicativo da urgência de uma análise crítica da cultura organizacional e da reconstrução de políticas de prevenção e adoecimento da força de trabalho. “A imagem da empresa pode ser negativamente afetada por não cuidar de seus colaboradores e ter um ambiente tóxico”.

Esse investimento preventivo precisa envolver um planejamento de médio e longo prazo e abraçar as particularidades da companhia. “Não se pode tratar a saúde mental como algo instantâneo. O trabalho deve ser mais amplo e sistêmico, incluindo diagnósticos técnicos; acompanhamento de indicadores; rastreabilidade do risco. Buscando, por meio de uma metodologia bem definida, encontrar a origem dos riscos psicossociais. Certamente, não são palestras ou ações isoladas que vão mitigá-los”, alerta a CEO da BeeTouch.

Além disso, é necessário envolver todos os funcionários, capacitando-os para poderem detectar as fases do estresse. Assim, o nível de esgotamento pode ser acompanhado e medido sistematicamente, tornando possível encontrar pontos sensíveis, atuar de forma preventiva, e por fim acolher e dar suporte a quem apresentar sintomas.

Burnout e as empresas

Atualmente, segundo a presidente da ISMA-BR, as empresas brasileiras costumam adotar três tipos de abordagem em relação ao burnout.

Na primeira delas, o objetivo é eliminar (ou modificar) os estressores ocupacionais, como pressão, sobrecarga e falta de transparência. Na segunda, o foco é atenuar os impactos desses fatores estressores. Já a terceira é a condução dos casos de burnout já existentes.

“Apenas 5% das empresas brasileiras investem na prevenção primária. A maioria vai direto para a prevenção secundária, adotando medidas não para eliminar, mas para atenuar o sofrimento e o desgaste dos trabalhadores. Oferecem paliativos como massagem, subsídio para academia, folga de aniversário. Mas o estressor continua ali”, explica Ana Maria Rossi.

O fracasso dessas medidas, diz ela, é questão de tempo. “O dano que isso acarreta para a saúde é bárbaro. Se o profissional não tem condições necessárias para trabalhar, é ele quem vai ter de buscar alternativas, o que envolve atualizar currículo, fazer networking e buscar capacitação. Mas, sem saúde, ele não consegue se mexer."

Se para o trabalhador seu efeito é devastador, para a empresa não é muito diferente. Falhas de performance, atrasos, animosidades, faltas, afastamentos, sobrecarga, demissões, processos judiciais são alguns efeitos colaterais do burnout.

“Segundo o estudo Mental Health in the Workplace, promovido em 2019 pela OMS, para cada US$ 1 investido em ações de saúde e bem-estar mental dos funcionários, US$ 4 são percebidos em aumento da produtividade”, destaca Ana Carolina, da BeeTouch.

Algumas medidas que as empresas podem tomar como preventivas:

  • Adotar uma carga horária de trabalho que seja sustentável e flexível
  • Dar voz aos colaboradores
  • Reconhecer o profissional, para que ele perceba que o que faz é valorizado
  • Fomentar o senso de comunidade e redes de apoio dentro das equipes
  • Seguir no dia a dia critérios éticos e transparentes para avaliações e promoções
  • Garantir condições, equipamentos e pessoal necessários para se trabalhar

Para se aprofundar mais sobre o tema, leia também:

+ 10 podcasts indispensáveis sobre saúde mental para ouvir agora

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+ Burnout geracional: por que a geração Z está entre as que mais sofre?

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