Volta ao presencial traz desafios para empresas; entenda quais são e veja soluções
Retorno aos escritórios exige estratégias de engajamento, que incluem criar uma cultura transparente e flexibilidade nas escolha dos benefícios.
Passados cinco anos desde o início da pandemia de Covid-19 em todo mundo, as empresas têm manifestado cada vez mais o objetivo de voltar ao modelo presencial de forma definitiva.
Companhias como Google, Disney, AT&T, Amazon, Meta e outras gigantes já exigem a presença dos funcionários no escritório pelo menos três vezes na semana.
No Brasil, há ainda quem opte pelo formato híbrido ou tenha escolhido manter home office, mas a Pesquisa de Tendências RH 2024, realizada pela Catho com 774 profissionais de RH e gestores, mostrou que mais de 60% das empresas voltarão ao modelo 100% presencial ao longo deste ano, e que até os processos seletivos retomarão o formato presencial.
No entanto, esta é uma grande mudança. Ao longo dos últimos anos, muitos profissionais foram contratados já no modelo remoto -- principalmente os mais jovens, da Geração Z, explica Rodrigo Vianna, CEO da Mappit e co-fundador do Talenses Group.
O home office se tornou um benefício a mais para atrair novos talentos, e tirá-lo dos trabalhadores não é algo tão simples, ainda que mandatório para várias organizações. A startup Revelo, plataforma de recrutamento tech, fez um levantamento no final de 2021 com 530 profissionais de tecnologia, que indicou que 79% deles preferiam trocar de emprego a perder o home office.
Comunicar as equipes e oferecer um período de transição é essencial para que a mudança seja o menos brusca possível. Vianna avalia que, muitas vezes, as empresas falham nesse processo.
“É muito difícil você conseguir justificar para alguém que consegue gerar uma produtividade altíssima na sua casa que é mais importante ela estar no presencial, onde você está com várias pessoas, onde você pode perder o foco”, diz.
Para o executivo, o primeiro ponto a ser levado em conta é que a obrigatoriedade do retorno precisa ter uma justificativa ligada ao negócio, e não apenas à opinião de alguém. Integrar os funcionários às decisões do processo de retorno é um bom caminho para que a volta aos escritórios tenha equipes mais engajadas.
Quais são as vantagens do trabalho presencial?
O levantamento da Catho aponta que a principal justificativa para o retorno aos escritórios é que alguns segmentos só podem atuar desta forma e o modelo presencial pode “favorecer o engajamento e a cultura organizacional dos times”.
Especialistas e lideranças mencionam mais motivos, como aprendizado e desenvolvimento dos funcionários, da inovação e da criatividade. O aumento da produtividade é outro ponto mencionado por alguns especialistas da área, mas ainda está longe de ser unanimidade.
A Sondagem do Mercado de Trabalho, do FGV-Ibre, realizada no ano passado com base nos dados da PNAD do IBGE, mostrou que 68,6% dos entrevistados viram a produtividade aumentar com o trabalho remoto.
Por outro lado, alguns setores demandam o trabalho presencial, como empresas do varejo, de consumo, bancos etc. Independentemente das razões, o tema se tornou caro aos CEOs. O levantamento da KPMG CEO Outlook 2023, feito com 1.300 CEOs pelo mundo no ano passado, mostrou que para 64% dos executivos, o pleno retorno ao escritório está a apenas três anos de distância. Além disso, 89% cogitam premiar funcionários que escolhem trabalhar presencialmente com atribuições mais favoráveis, aumentos ou promoções.
Como benefícios podem engajar colaboradores no presencial
Muitos funcionários adaptaram suas rotinas à flexibilidade do trabalho remoto, o que significa que obrigá-los a voltar ao escritório impacta diretamente em suas vidas pessoais.
Por isso, existem mecanismos e estratégias que o RH pode adotar para tornar o retorno mais atrativo e fazer com que o funcionário consiga se encaixar no “novo” modelo. E isso passa pela escolha dos benefícios oferecidos pela empresa.
Levantamento da Robert Half de 2023, por exemplo, mostrou que poder escolher os benefícios de acordo com as próprias necessidades, ou seja, ter os chamados benefícios flexíveis, era um desejo de 81% dos entrevistados.
Vianna explica que, neste momento, é importante que as empresas olhem para o seus benefícios e pensem em como construir uma jornada para que o colaborador consiga escolher o que melhor funciona para ele e que atenda as suas particularidades.
Ele cita como exemplo funcionários que adotaram um pet durante a pandemia. Para alguns tutores, deixá-los em casa o dia todo, sozinhos, não é uma opção viável. Receber um auxílio creche para pets pode ser uma alternativa interessante para estes profissionais que terão de voltar ao presencial.
“O mercado acabou, de alguma forma, adaptando-se a uma nova rotina de trabalho, um modelo que você consegue equilibrar questões pessoais e profissionais. Essa mudança, quando feita de forma muito drástica, sem um anúncio, sem um preparo, pode criar um incômodo para os colaboradores e colaboradoras”, completa Vianna.
Aumentar o vale transporte e investir no vale-mobilidade para quem vai ao trabalho de carro podem ser outras ótimas opções para trabalhadores com preferências diferentes e que priorizam o transporte entre os benefícios recebidos.
“Acho que existe também um certo desconhecimento não só de algumas áreas de recursos humanos, mas principalmente de quem toma a decisão nas organizações sobre a vantagem que esses benefícios flexíveis podem trazer para uma empresa hoje.”
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Benefícios flexíveis modernizam gestão de pessoas e retêm talentos
Vianna ressalta que as opções de benefícios flexíveis são inúmeras. “Pode custar um pouquinho mais caro do que você tem hoje, claro, porque é um outro conceito, mas é mais moderno. A gente está falando de modernizar o negócio. Você não vai tirar o benefício de ninguém, pelo contrário, você vai aumentar a capilaridade que você tem de atender a todos os colaboradores da sua empresa com um modelo mais moderno”, diz Rodrigo.
Laís Vasconcelos, gerente da Robert Half, explica que empresas que contrataram a maior parte dos seus colaboradores durante o período de pandemia em modelos mais flexíveis do que o atual estão sofrendo com um turnover alto ao fazer com que todos voltem obrigatoriamente aos escritórios.
“A estratégia de talentos está muito vinculada à retenção. Você precisa ter atratividade, o que tem feito essa discussão sobre os benefícios acontecer de uma forma mais acelerada no mercado. Todo mundo pergunta sobre benefícios, o que você está sentindo no concorrente x, y, z e o que eles estão fazendo de ações dentro dessas estruturas para melhorar a retenção.”
Quais são os benefícios mais valorizados pelos colaboradores?
A pesquisa "Benefícios 2023", conduzida pela Robert Half no ano passado, mostrou que os dez benefícios mais valorizados pelos trabalhadores são:
- Assistência médica
- Vale-refeição
- Vale-alimentação
- Assistência odontológica
- Previdência privada
- Estacionamento
- Auxílio-estudo
- Notebook
- Vale combustível e carro para uso profissional e particular
É possível notar que os benefícios que fogem do pacote “tradicional” estão cada vez mais no radar dos funcionários.
A Catho traz uma lista parecida, mas também cita o auxílio-creche e o home office como benefícios que mais motivam os funcionários.
Como engajar os funcionários com o trabalho presencial?
O retorno ao presencial também tem limitações físicas. Com a pandemia e a obrigatoriedade do trabalho remoto, muitas empresas reduziram seus espaços. Para uma retomada de 100%, é necessário investir em estrutura e retrofit, o que custa caro. Apesar do preço, tornar os escritórios lugares mais acolhedores é algo importante para que os trabalhadores queiram voltar.
“No passado, os escritórios eram muito padronizados. Eram cinzas, sem espaço de convivência, de descompressão. Quando eu penso em voltar ao presencial, e olhando pra questão de infraestrutura das empresas, é importante pensar em como é que eu torno o meu escritório um ambiente mais colaborativo e mais atrativo para as pessoas. Então, é um trabalho, sim, de retrofit, é um trabalho de otimizar espaço”, diz Rodrigo.
A ideia de fornecer benefícios in loco pode ser mais um elemento para engajar trabalhadores, como celebrações semanais, café da manhã e almoços com a liderança subsidiados pela empresa. Porém, mais do que simplesmente trazer o funcionário de volta, é importante fazê-lo entender porque é importante estar ali. Vasconcelos afirma que isso passa inevitavelmente pela cultura da companhia.
Não há resposta única para uma questão que é complexa e muito individual: fazer com que o funcionário queira ser parte de algo. “Esse é o grande ponto de interrogação hoje das empresas, como fazer aquele colaborador se sentir parte de alguma coisa, a ponto dele querer entender a importância de estar junto, remando por um objetivo em comum. Até porque nós temos valores diferentes, o peso do trabalho pra mim pode ser um peso diferente do trabalho pra você.”
O grande desafio do RH, destaca Vasconcelos, é encontrar esse objetivo em comum, engajar o tempo todo e trabalhar com cultura. “É nessa hora que o RH se torna estratégico. Porque se eu pego o funcionário, boto ele dentro do meu objetivo, da minha corporação, do desenvolvimento, do treinamento, entendo qual é a demanda de cada um, faço um curso pensando naquele colaborador, crio engajamento dele dentro daquela estrutura.”
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