“É possível ser feliz no trabalho”, afirma Suzie Clavery, CHRO da TotalPass para a América Latina
Employer branding faz diferença? Suzie Clavery, CHRO da TotalPass, revela como construir uma marca empregadora forte. Saiba mais na entrevista.

Dá para ser verdadeiramente feliz no trabalho? Para Suzie Clavery, CHRO da TotalPass para a América Latina, a resposta é sim. A executiva afirma que a melhor tradução para o sucesso de uma marca empregadora está nos seus funcionários e é uma receita que envolve satisfação, bem-estar e engajamento.
Clavery começou a trabalhar com employer branding no início dos anos 2000, em uma época em que o tema era praticamente desconhecido no Brasil. De lá para cá, as coisas não mudaram tanto, avalia a executiva. Ela decidiu escrever o livro“Isso é employer branding?!” (ed. Leader), primeira publicação brasileira a se debruçar sobre este tema, que está cada vez mais em alta, para ajudar profissionais e empresas do país a entenderem o assunto de maneira organizada.
Desde abril do ano passado, quando chegou à TotalPass, Suzie está à frente da estratégia de employer branding da companhia, que foi fundada pelo grupo SmartFit com o objetivo de promover saúde física e mental no meio corporativo. A TotalPass é uma das parceiras da Flash e reúne em sua plataforma digital academias e outros espaços voltados para a atividade física e o bem-estar.
Em entrevista para o blog da Flash, Suzie explica por que construir uma marca empregadora sólida é importante nos dias de hoje. A CHRO explica que o processo é estratégico e não se limita à atração de talentos: contribui tanto para o crescimento sustentável da organização como para a construção da sua boa reputação junto ao mercado. A seguir, confira trechos do bate-papo:
Felicidade no trabalho é algo verdadeiramente possível? Como cultivá-la?
Suzie Clavery: Sim, mas depende de diversos fatores, que envolvem tanto o ambiente organizacional como o indivíduo. Para cultivá-la, é importante focar em aspectos como reconhecimento e valorização – o colaborador precisa sentir que seu esforço é apreciado, criar um ambiente positivo, e investir em autonomia e em flexibilidade, para que ele tenha liberdade para tomar decisões e gerenciar seu próprio tempo e espaço.
É preciso ter relações saudáveis para um ambiente mais agradável e colaborativo, assim como manter o equilíbrio entre demandas profissionais e necessidades pessoais para reduzir estresse e exaustão. Por outro lado, o desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo também é importante e, para isso, é preciso oferecer oportunidades de crescimento e aprendizado constante dentro do trabalho, que geram sentimento de realização e satisfação.
E quando tudo isso é feito, e o colaborador ainda não se sente feliz?
Toda a experiência pode ser positiva e, ainda assim, a pessoa colaboradora não ser feliz no que faz. Isso acontece porque o que move felicidade no trabalho é o propósito. É sentir que o que se faz contribui para algo maior e pode ser fonte de grande satisfação. Nesse sentido, explicar qual é a missão da empresa, com frequência, ajuda a entender se os propósitos pessoais se ajustam aos profissionais. Quem está conectado nos dois propósitos continua e evolui a jornada.
Qual o peso da felicidade no trabalho?
Sonja Lyubomirsky, uma das principais pesquisadoras na área da psicologia positiva, define felicidade como o estado de bem-estar subjetivo –caracterizado por emoções positivas, satisfação com a vida e uma sensação de realização. No livro "The How of Happiness" (em tradução livre, “O como da Felicidade”), ela argumenta que a felicidade não é um estado permanente, mas algo que pode ser cultivado e mantido por meio de práticas específicas e mudanças no estilo de vida.
A felicidade, diz, é composta por três fatores principais: hereditariedade (50%), circunstâncias (10%) e fatores internos (40%). A autora acredita que temos um controle significativo sobre o que podemos fazer para aumentar nosso bem-estar. De acordo com esse raciocínio, faz toda a diferença o propósito pessoal e o profissional estarem em harmonia.
E qual a relação da felicidade no trabalho para os negócios?
São diversos estudos e rankings que destacam a correlação entre a felicidade no ambiente de trabalho e o desempenho empresarial. Por exemplo, a lista anual das 100 Melhores Empresas para Trabalhar, da revista Fortune, classifica empresas com base na satisfação dos funcionários e nos benefícios oferecidos. Estudos indicam que as empresas presentes nessa lista superaram seus concorrentes em retornos totais aos acionistas, apresentando um desempenho financeiro superior.
Além disso, um estudo conjunto da Universidade de Harvard e do MIT revelou que colaboradores felizes podem aumentar as vendas em 37%, a produtividade em 31% e a criatividade em 55%. Esses funcionários também tendem a cometer menos erros e apresentam menor índice de ausências por motivos de saúde, contribuindo para o sucesso geral da empresa.
Como a TotalPass aplica o employer branding no seu dia a dia?
Estamos iniciando a jornada de employer branding e a construção do nosso EVP (Employer Value Proposition), para a criação de uma estratégia sólida e capaz de traduzir realmente quem somos como marca empregadora. Temos focado também na melhoria das experiências de candidatos e colaboradores, pois sabemos que a marca empregadora se constrói de dentro para fora.
Sobre a experiência dos TotalPassers, como chamamos nossos colaboradores, estamos focados em estabelecer de forma mais clara e profunda a nossa cultura, além de melhorar nossa comunicação organizacional. Paralelamente, trabalhamos para criar programas de desenvolvimento e mentorias, ao mesmo tempo em que buscamos melhorias no processo de treinamento e desenvolvimento, entre outras ações.
É um trabalho que leva tempo, e estamos no começo da jornada. Por isso digo que employer branding não é um projeto, mas um processo: enquanto o projeto tem começo, meio e fim, o processo começa, mas não termina. Precisa de frequência e evolução constantes.
Employer branding é uma ideia valorizada no meio corporativo brasileiro?
Infelizmente, não como deveria ser. Quando se fala em employer branding, está se falando da reputação de marca empregadora, o que é construído de dentro para fora. Embora o tema tenha ganhado visibilidade no Brasil nos últimos anos, ainda falta muito conhecimento e apoio das lideranças para adotar e apoiar estratégias voltadas para a questão.
Alguns dados levantados pelo estudo Perspectivas do Employer Branding, da Employer Branding Brasil, refletem o panorama atual do conceito no país. Apenas 3,4% das empresas possuem iniciativas de marca empregadora em estágio avançado, sendo que mais da metade (51,1%) está em fase inicial. A pesquisa constatou que somente 38,2% dos líderes valorizam significativamente a gestão da marca empregadora e 12,4% estão completamente distantes do tema.
Leia também: De felicidade corporativa a semana de trabalho de 4 dias: como trazer bem-estar para o RH
Quais frutos uma estratégia de employer branding pode trazer para uma empresa?
Uma boa estratégia está associada a inúmeros benefícios, como:
- Impacto no crescimento empresarial;
- Percepção dos profissionais;
- Atração de talentos qualificados;
- Redução de turnover;
- Aumento da produtividade e do engajamento;
- Imagem corporativa sólida.
Qual é a importância, para a empresa, de contar com o engajamento dos colaboradores?
Engajamento é crucial para o crescimento e a sustentabilidade de uma organização, pois impacta diretamente na eficiência, na inovação, na qualidade do atendimento e no clima organizacional.
Funcionários engajados tendem a ser mais motivados e dedicados – estudos recentes indicam que eles são, em média, 21% mais produtivos. Eles não apenas buscam constantemente melhorar seu desempenho como também se sentem responsáveis pelos resultados da empresa, além de mais seguros para sugerir novas ideias, soluções criativas e melhorias nos processos. Isso contribui para o seu alinhamento com a missão, a visão e os valores da organização, favorecendo esforços coletivos que são necessários para a conquista de objetivos estratégicos.
Outro benefício observado é a preocupação do profissional em oferecer um bom atendimento ao cliente, algo que impacta diretamente na experiência e na reputação da empresa e pode se refletir em melhores índices de fidelidade e recomendação. Empresas com colaboradores engajados superam concorrentes em até 147% em termos de satisfação do cliente.

E qual o reflexo do engajamento, internamente?
Internamente, o engajamento fortalece o vínculo emocional dos funcionários com a empresa, melhorando o clima e a saúde organizacional. Cria-se um ambiente de trabalho mais positivo e colaborativo, que pode resultar em uma comunicação mais eficaz e um ambiente harmonioso. Mais satisfeitos com o trabalho, os colaboradores ficam menos propensos a sair e caem os custos com recrutamento e treinamento.
Para completar, se a falta de engajamento pode levar a problemas como absenteísmo, estresse, desmotivação e até mesmo sabotagem, profissionais envolvidos tendem a estar mais comprometidos com o bem-estar da empresa. Engajamento está relacionado com a redução de 37% no absenteísmo, por exemplo.
Dentre as boas práticas para manter os funcionários engajados e felizes no trabalho, quais dicas usadas pelos RHs você considera essenciais?
O primeiro ponto é que esse processo deve ser constante. Considero essencial a comunicação transparente e aberta entre a empresa e seus colaboradores, já que manter as pessoas informadas sobre as metas da corporação, suas mudanças e seus resultados ajuda a criar um ambiente de confiança. Isso envolve reuniões regulares de feedback para ouvir preocupações e sugestões e também para fornecer atualizações importantes. Feedback construtivo e regular contribui para que o funcionário entenda o que está fazendo bem e onde pode melhorar.
Assim como reconhecer um bom trabalho, investir no crescimento e no desenvolvimento contínuo do profissional é uma forma poderosa de empresas motivarem, engajarem e demonstrarem que se importam com o progresso dos seus colaboradores.
A promoção do cuidado com a saúde mental tem se mostrado cada vez mais relevante, especialmente em tempos de grande pressão e estresse. Incentivar o equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal ajuda a evitar o burnout e contribui para a motivação e a satisfação do colaborador, além da criação de um ambiente de trabalho saudável e inclusivo. Isso envolve a criação de uma cultura de respeito à diversidade e incentivo ao trabalho em equipe.
Citaria finalmente, como peça fundamental desse processo, dar aos profissionais mais autonomia para que possam tomar decisões relacionadas ao seu trabalho. Desta forma, também se estimula o senso de responsabilidade de cada um.
Qual o papel do RH e da liderança na construção de uma cultura de felicidade no trabalho?
É uma construção que envolve o esforço conjunto do RH e da liderança: ambos possuem papel essencial para criar e sustentar um ambiente que promova bem-estar, engajamento e motivação entre as pessoas colaboradoras. A liderança deve ser um exemplo de comportamento positivo, motivar os colaboradores, promover o crescimento pessoal e profissional e manter um ambiente de trabalho saudável.
E o RH desempenha um papel crucial na capacitação de líderes, afinal, um líder bem preparado é essencial para um ambiente de trabalho saudável e motivador. Desta forma, devem proporcionar treinamentos que ensinam habilidades de liderança empática, comunicação eficaz e resolução de conflitos.
O alinhamento entre RH e liderança vai garantir com que os valores da empresa sejam constantemente reforçados nas ações e comportamentos diários. O RH pode criar as condições para um ambiente de felicidade, enquanto a liderança transmite e prática esses valores no dia a dia.
Neste sentido, quando começa o trabalho do RH?
O RH tem papel fundamental no desenvolvimento, implementação e promoção de programas e práticas que atendam às necessidades de saúde física e mental dos funcionários. Isso pode incluir a oferta de benefícios de saúde, plano de apoio psicológico e atividade física, entre outras ações.
A atuação do RH na construção de uma cultura de felicidade começa na contratação, com objetivo de garantir com que os profissionais ingressantes compartilhem dos valores e da visão da empresa. Esse cuidado não apenas contribui para uma integração mais fluida, mas principalmente para o estabelecimento de um ambiente mais harmonioso.
Estabelecer uma cultura de feedback contínuo, na qual os colaboradores se sintam ouvidos e possam melhorar continuamente, é outra missão fundamental para o RH. Isso inclui a coleta de feedbacks dos funcionários e a análise regular de pesquisas de clima organizacional, para entender o que está funcionando e o que pode ser melhorado. Criando, desta forma, um ciclo de melhoria contínua.
Para construir uma cultura de felicidade no trabalho é vital, ainda, criar e manter programas que reconheçam o esforço e as conquistas dos colaboradores. Nesse sentido, podem ser construídas iniciativas formais e informais, que reforcem os comportamentos positivos e a apreciação pelo trabalho bem feito.
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Repórter da Unicamp, formada na USP. Tem vasta experiência em produção de conteúdo para mídias digital e impressa, e assessoria de imprensa. Passou por Grupo Folha, Record e Microsoft.